Pe. Rubens mar 24, 2022

Uma oração do coração da grande tradição mariana

Uma oração do coração da grande tradição mariana

Da Redação com informações de ANDREA TORNIELLI

Uma oração pública, coral, que une toda a Igreja, para implorar a paz e consagrar toda a humanidade ao Imaculado Coração de Maria, especialmente a Rússia e a Ucrânia, enquanto, infelizmente, os combates e bombardeios ainda estão em ação, acabando com a vida de civis ucranianos. Um gesto simples e humilde, de quem acredita e confia no poder da oração e não no poder dos armamentos. Foi apresentado o texto do ato de consagração e entrega, que o Papa Francisco fará por volta das 18h30 do dia 25 de março, sexta-feira, festa da Anunciação, no final da liturgia penitencial na Basílica do Vaticano. É um texto enriquecido com citações da grande tradição mariana, que será pronunciado em todo o mundo pelo povo de Deus liderado por bispos e sacerdotes. Aqui estão algumas referências.

Mãe de Deus, é o título com o qual Nossa Senhora é venerada no Oriente e no Ocidente, proclamado como dogma pelo Concílio de Éfeso.

Mãe de misericórdia é uma expressão que também se repete na oração “Salve Rainha”.
Foi Ele que Vos deu a nós e colocou no vosso Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Estas palavras evocam a revelação de Fátima: “Deus decidiu estabelecer a devoção ao meu Imaculado Coração…” e “meu Imaculado Coração será teu refúgio”. Embora o dogma da Imaculada Conceição de Maria, proclamado pelo Beato Pio IX em 1854, pertença à Igreja Católica, as Igrejas da Ortodoxia compartilham a mesma fé. O teólogo ortodoxo russo Sergei Bulgakov, por exemplo, sustenta que “na Ortodoxia, a fé na ausência do pecado pessoal da Mãe de Deus é como o incenso, como uma nuvem de oração que a veneração e a piedade da Igreja concentram e fazem subir”. Além disso, a menção de “refúgio” faz eco à antiga oração mariana “Sub tuum praesidium”.
Por isso recorremos a Vós, batemos à porta do vosso Coração, nós os vossos queridos filhos que não Vos cansais de visitar em todo o tempo e convidar à conversão. Aqui pode-se detectar uma referência às aparições marianas.

Repeti a cada um de nós: “Não estou porventura aqui Eu, que sou tua mãe?”. Trata-se da frase que Maria revelou ao índio, Juan Diego, na aparição de Guadalupe.

Vós sabeis como desfazer os emaranhados do nosso coração e desatar os nós do nosso tempo. Pode-se ler aqui uma referência à “Nossa Senhora Desatadora de Nós”, uma imagem mariana à qual sabe-se que o Papa Francisco é muito devoto.

Vós, “terra do Céu”, trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus. A expressão “terra do Céu” é retirada de um hino monástico bizantino-eslavo e significa poeticamente a união entre o céu e a terra que podemos contemplar em Maria, que subiu ao Céu também com seu corpo.

As lágrimas, que por nós derramastes, façam reflorescer este vale que o nosso ódio secou. Esse trecho apresenta uma outra menção à oração “Salve Rainha”, onde se fala de “vale de lágrimas”.

O sim que brotou do vosso Coração abriu as portas da história ao Príncipe da Paz; confiamos que mais uma vez, por meio do vosso Coração, virá a paz. Nestas palavras há uma alusão velada ao início do “Tratado da verdadeira devoção” do santo Montfort, segundo o qual Deus, assim como entrou no mundo através de Maria, assim também através dela deseja continuar a reinar no mundo.

Dessedentai a aridez do nosso coração, Vós que “sois fonte viva de esperança”. Esta é uma citação da oração de São Bernardo, “Virgem Mãe, Filha do Teu Filho”, encontrada no último canto (XXXIII) da Divina Comédia de Dante Alighieri.

Tecestes a humanidade para Jesus. Esta é uma expressão inspirada em certos padres orientais (por exemplo, Santo Efrém, o Sírio). A imagem de Maria como “tecelã” está presente na iconografia cristã desde o mosaico do arco triunfal de Santa Maria Maior e ao longo do primeiro milênio.

O ato de entrega a Maria tem uma referência evangélica. No Evangelho de João lemos que Jesus, da cruz, confia a sua Mãe o único apóstolo presente no Calvário: “Mulher, eis o teu filho”. E imediatamente depois, ele acrescenta, dirigindo-se a João: “Eis tua mãe”. Encontramos vestígios do ato de consagração ou de entrega a Maria pelo menos já no século VIII, com João Damasceno, teólogo árabe de fé cristã e doutor da Igreja, originário de Damasco. Foi ele quem formulou a primeira oração de consagração a Nossa Senhora: “Também nós, hoje permanecemos perto de vós, ó Soberana”. Sim, repito, ó Soberana, Mãe de Deus e Virgem. Amarremos nossa alma à vossa esperança como uma âncora firme e inquebrável, consagrando-vos mente, alma, corpo e todo o nosso ser e honrando-vos, na medida do possível, ‘com salmos, hinos e cânticos espirituais’ (Ef 5,19)”.

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