Reconhecidas as virtudes heróicas de Irmã Lúcia e de Dom Antônio de Almeida Lustosa
Da Redação;
A guardiã do “terceiro segredo” torna-se Venerável juntamente com outros quatro Servos de Deus, entre os quais o salesiano brasileiro Antônio de Almeida Lustosa, arcebispo de Fortaleza, falecido em 1974. Francisco, que estará no Santuário de Fátima em agosto, autorizou a promulgação do Decreto. Também foi reconhecido o martírio de dez sacerdotes e dez leigos da arquidiocese de Sevilha, mortos durante a Guerra Civil Espanhola em 1936: eles serão proclamados Beatos.
Irmã Lúcia dos Santos, um dos três pastorzinhos de Fátima, é Venerável. Na manhã desta quinta-feira, o Papa Francisco recebeu o cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, autorizando a promulgação do Decreto que reconhece as virtudes heroicas da religiosa. Junto com a Irmã Lúcia, o salesiano brasileiro Antônio de Almeida Lustosa, arcebispo de Fortaleza, falecido em 1974, tornou-se Venerável, “convencido”, como afirma a biografia no site do Dicastério para as Causas dos Santos, “de que a primeira evangelização consiste em devolver a dignidade às pessoas e às famílias mais pobres”: ele também foi ensaísta, cientista e artista. Outros 3 Servos de Deus se tornaram Veneráveis. O martírio de dez sacerdotes e dez leigos da arquidiocese de Sevilha, mortos por ódio à fé durante a Guerra Civil Espanhola em 1936, também foi reconhecido e eles foram proclamados Beatos.
A GUARDIÃ DO “TERCEIRO SEGREDO”
Nascida em Aljustrel em 28 de março de 1907, a Irmã Lúcia teve uma série de aparições da Virgem Maria em 2017 na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, junto com seus dois primos Francisco e Jacinta Marto. Após a morte prematura de seus primos, que faleceram alguns anos depois devido à gripe espanhola e foram canonizados pelo Papa Francisco em 2017, a Irmã Lúcia permaneceu como a única guardiã da mensagem que lhe foi confiada por Nossa Senhora, que ela transcreveu, a pedido do bispo de Leiria, José Alves Correia da Silvia, em quatro documentos entre 1935 e 1941. Outro escrito, datado de 1944, continha a terceira parte do segredo de Fátima, o chamado “terceiro segredo”, e foi enviado a Roma, aberto pela primeira vez em 1960 e não revelado por São João XXIII e São Paulo VI. Foi São João Paulo II – particularmente devoto de Nossa Senhora de Fátima – que tornou o segredo conhecido no ano 2000.
EXCEPCIONALIDADE E NORMALIDADE
A Irmã Lúcia viveu com empenho a custódia da mensagem mariana durante toda a sua longa vida, primeiro no colégio das Irmãs Doroteias em Vilar, depois como carmelita em Coimbra, onde faleceu em 13 de fevereiro de 2005. A distinção entre sua vida e as aparições, diz o decreto, “é difícil também porque muitos de seus sofrimentos tiveram que ser atribuídos às aparições: ela sempre foi mantida escondida, protegida, guardada. Pode-se ver em toda a sua vida a dificuldade de manter juntas a excepcionalidade dos eventos dos quais ela foi espectadora e a ordinariedade de uma vida monástica como a do Carmelo”. Em 13 de maio de 1967, a Irmã Lúcia foi a Fátima para se encontrar com São Paulo VI. Ela fez o mesmo com São João Paulo II em 13 de maio de 1982, quando o Pontífice ofereceu a Nossa Senhora uma das balas da tentativa de assassinato contra ele no ano anterior, e depois novamente em 13 de maio de 1991 e 13 de maio de 2000. Após a morte da Irmã Lúcia, o Papa Bento XVI também visitou Fátima em 2010 e o Papa Francisco em 2017. O próprio pontífice visitará o santuário em 5 de agosto, como etapa de sua viagem a Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude.
DOM ANTONIO DE ALMEIDA LUSTOSA, 2º ARCEBISPO DE FORTALEZA
Antônio de Almeida Lustosa nasceu em 11 de fevereiro de 1886 de uma família da burguesia de São João del-Rei, no Estado brasileiro de Minas Gerais (MG). Dos pais aprendeu o espírito de sacrifício e o valor do trabalho. Os salesianos tinham aberto fazia pouco um internato – o Colégio Dom Bosco – em Cachoeira do Campo (MG).
Antônio ali foi aos 16 anos. Dois anos depois decidiu tornar-se salesiano. Distinguiu-se por penetrante inteligência e por real empenho na vida religiosa. Aos 26 anos já era ordenado sacerdote. Foi feito Mestre de Noviços, e também Diretor (em Lavrinhas, no Estado de São Paulo), sendo encarregado da formação dos aspirantes salesianos, dos Estudantes Salesianos de Filosofia e também de Teologia. Além de ensinar, formava ao apostolado salesiano numerosos clérigos, animando, com a ajuda deles, as paróquias e os oratórios nas cidadezinhas próximas.
Em 1925 foi eleito Bispo de Uberaba, também em Minas Gerais (MG). Achou o seminário praticamente vazio: depois de um ano tinha no ginásio perto de 30 seminaristas. Interessou-se pelos excluídos, fazendo sua a urgência da justiça social. Não haviam passado sequer quatro anos que foi transferido a Corumbá, no hoje Mato Grosso do Sul (MS), sede maior e com maiores dificuldades para a evangelização. Após dois anos foi nomeado Arcebispo do Belém do Pará (PA), imensa Diocese da Região Norte do Brasil. Ali ficou dez anos, prodigalizando-se com a mesma generosidade de sempre.
Em 1941 foi transferido à importante sede de Fortaleza, no Estado do Ceará (CE), onde se expendeu com tudo o que era, por bem 22 anos, vivendo intensamente o “Da mihi animas” de Dom Bosco. Convencido de que a primeira evangelização consiste no redar dignidade às pessoas e famílias mais pobres, fundou ambulatórios, o hospital São José, escolas populares gratuitas e círculos operários. Inaugurou a “Sopa dos pobres” e os Serviços Sociais da Arquidiocese. Sem nunca esquecer o pastoreio das almas, deu vida ao Pré-Seminário, ao Santuário “Nossa Sra. de Fátima” e à ‘Rádio Assunção Cearense’. Para dar assistência às famílias do campo fundou a Congregação das ‘Josefinas’.
Dom Antonio foi um escritor prolífico nos setores mais variados: teologia, filosofia, espiritualidade, hagiografia, literatura, geologia, botânica… De se não esquecer o seu finíssimo senso de humor. Assaz apreciado foi também no campo artístico: são seus os vitrais da Catedral de Fortaleza.
Em 1963 se retirou à Casa salesiana, de Carpina (PE), onde transcorreu os últimos 11 anos de vida e onde aos 14 de agosto de 1974 entregou a sua alma a Deus. Seu corpo repousa na Catedral de Fortaleza.
Dom Antônio de Almeida Lustosa agora é “Venerável Servo de Deus”.
VINTE MÁRTIRES DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA EM SEVILHA
O decreto desta quinta-feira também reconhece 20 mártires da fé durante a Guerra Civil Espanhola em 1936. Entre eles está o padre Manuel González-Serna Rodríguez, nascido em Sevilha em 1880 e nomeado pároco na vizinha Constantina em 1911. Preso na noite de 19 de julho de 1936 por milicianos republicanos, ele foi executado na sacristia quatro dias depois. Naquele verão de 1936, no início da Guerra Civil Espanhola, outros 9 sacerdotes e 10 foram mortos em Sevilha e arredores, muitas vezes após serem presos e sem julgamento, no clima de perseguição que os republicanos estabeleceram contra qualquer pessoa que professasse ser membro da Igreja Católica. Padre Mariano Caballero Rubio teve sua paróquia em Huelva incendiada antes de ser preso, e o seminarista Enrique Palacios Monrabà foi preso e morto junto com seu pai aos 19 anos de idade. Entre os mártires estavam também um advogado, um farmacêutico, membros do conselho paroquial e um paquete das freiras Clarissas, que vivia com sua mãe viúva perto do mosteiro.
OS OUTROS NOVOS VENERÁVEIS
Junto com a Irmã Lúcia e o salesiano brasileiro Antônio de Almeida Lustosa, arcebispo de Fortaleza estão os veneráveis: padre veneziano Antonio Pagani, teólogo franciscano no Concílio de Trento, promotor do laicato católico e fundador dos Irmãos da Cruz e da Sociedade das Irmãs Demissas em 1579; a Irmã Mary Lange, que deixou sua terra natal, Cuba, e foi para os Estados Unidos por causa da discriminação racial e, em 1829, fundou a Congregação das Irmãs Oblatas da Providência em Baltimore, dedicada à educação escolar; por fim, a religiosa vicentina Anna Cantalupo, que, em Catânia, dedicou-se a cuidar dos pobres doentes, especialmente dos órfãos de guerra, organizando assistência espiritual para os soldados da Segunda Guerra Mundial que passavam pela cidade siciliana.
Fonte: Vatican News