Quaresma e penitências modernas
Por Dom Orlando Brandes
Quaresma é tempo de penitência, renovação restauração. Proponho algumas penitências próprias para quem vive e sobrevive na cultura moderna. São penitências libertadoras, saudáveis, humanizadoras, necessárias.
Libertação da dependência dos aparelhos eletrônicos.
A tecnologia virou ídolo. Somos reféns e escravos do celular, da internet, da televisão, etc. Estes meios de comunicação virtuais são magníficos e realizaram uma revolução sem igual. Todavia o mau uso destes meios nos escravizam.
Cortesia no trânsito.
A cortesia é sinônimo de respeito, atenção, reverência para com os outros. Penitência no trânsito significa desfazer-se de veículos desnecessários, usar os meios públicos de transporte, observar as leis e caminhar mais. Todavia a cortesia é uma possibilidade de humanizar, suavizar e solucionar problemas crônicos nas cidades e estradas.
Saber silenciar.
O barulho, a agitação, a dissipação nos obrigam a viver uma vida fragmentada, agressiva, doentia. Até o sono, a afetividade, a sexualidade são significativamente prejudicadas. Saber parar, saber meditar é um remédio, uma solução prática, uma atitude sábia em favor da saúde, da paz, da boa convivência e da alegria de viver. A quaresma equivale a um retiro espiritual.
Equilibrar trabalho e família.
Trabalho é bom. Trabalhar demais vira doença. É o que se chama de “síndrome da fadiga”, ou seja, esgotamento, apatia, desânimo, frustração. Sei que esta penitência é muito exigente. Mas, o excesso de trabalho não pode prejudicar a família. O lazer é um dever. Demos primazia à família e não ao lucro e ao consumismo que se transformam em doença e desequilíbrio pessoal e familiar.
Mudar o hábito alimentar e fazer exercícios.
Convivemos com a fome, a obesidade e o desperdício. Sem mudar hábitos alimentares e sem exercícios físicos, seremos candidatos ao hospital. A tentação do consumismo e da gula, por outro lado, trouxe a “ditadura da magreza” que é outro problema grave. Quão sábio é Jesus quando nos ensina a jejuar.
Cuidar da mãe terra e da irmã água.
O homem inteligente passou a ser demente pela destruição do Meio Ambiente. A vida virou cálculo, lucro, dinheiro. Resultado disso tudo é que somos uma geração emocionalmente desequilibrada e culturalmente depredadora. Como escreve um grande teólogo: “o homem virou satã de si mesmo e da vida.” Temos mil maneiras de salvar a mãe terra e a irmã água e todas as criaturas. Façamos da terra nossa casa comum e o jardim desejado pelo Criador.
A conversão pastoral.
Eis uma penitência urgente e necessária. Não podemos permanecer na mesmice e na acomodação pastoral. O Papa Francisco nos convida à conversão pastoral através da Igreja em saída. São muitas as saídas.
Primeira: sair de si e ir ao povo, às periferias.
Segunda: sair de casa e visitar as famílias.
Terceira: sair da sacristia e abraçar a realidade sofrida do povo.
Quarta: sair da diocese, da paróquia para outras regiões como, por exemplo, a Amazônia.
Quinta: sair para outros continentes, é a missão além fronteiras.
Sexta: sair da cultura pessoal para a inculturação em outras realidades.
Sétima: sair da zona de conforto, para a doação de si, o martírio e a própria morte.