O TEMPO DA CRIAÇÃO CONVIDA A TRANSFORMAR CORAÇÕES, ESTILOS DE VIDA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
Inspirado no Dia de Oração pelo Meio Ambiente, criado pela Igreja Ortodoxa Oriental em 1989, o Papa Francisco instituiu, em 2015, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado em 1º de setembro. A iniciativa depois foi transformada no Tempo Ecumênico da Criação, que se estende até 4 de outubro, memória litúrgica de São Francisco de Assis.
Neste período, cada cristão é chamado a renovar “a adesão pessoal à própria vocação de guardião da Criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a proteção da Criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos”, escreveu o Pontífice na mensagem em que instituiu a data em 2015.
‘QUE JORREM A JUSTIÇA E A PAZ’
Em 2023, o tema “Que jorrem a justiça e a paz”, inspirado nas palavras do profeta Amós – “Jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca” (Am 5,24) –, é um convite a abraçar a justiça climática e ecológica e para que todos sejam solidários às comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas.
Na mensagem deste ano, o Papa Francisco ressalta que Deus quer que sempre reine a justiça, “que é essencial para a nossa vida de filhos, criados à imagem de Deus, como é a água para a nossa sobrevivência física”, e que cada pessoa procure sempre ser justa: “Quando buscarmos antes de tudo o Reino dos Céus (cf. Mt 6,33), mantendo uma justa relação para com Deus, a humanidade e a natureza, então a justiça e a paz poderão jorrar como torrente inexaurível de água pura, vivificando a humanidade e todas as criaturas”.
Francisco conclama que todas as pessoas de boa vontade estejam ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática, e constata que “o consumismo voraz, alimentado por corações egoístas, está a transtornar o ciclo da água do planeta. O uso desenfreado de combustíveis fósseis e a destruição das florestas têm criado uma subida das temperaturas e provocado graves secas. Terríveis carências hídricas afligem cada vez mais as nossas casas, desde as pequenas comunidades rurais até as grandes cidades. Além disso, indústrias predatórias estão a esgotar e poluir as nossas fontes de água potável com atividades extremas, como a perfuração para a extração de petróleo e gás, os mega-projetos de extração descontrolada e a engorda acelerada de animais”.
A URGÊNCIA DE NOVAS ATITUDES
Diante de tais fatos, o Papa lança duas indagações: “Como podemos contribuir para o rio caudaloso da justiça e da paz neste Tempo da Criação? Que podemos nós, sobretudo como Igrejas cristãs, fazer para sanar a nossa casa comum, para que volte a pulular de vida?”. E ele mesmo indica um caminho: “Devemos decidir-nos a transformar os nossos corações, os nossos estilos de vida e as políticas públicas que regem a nossa sociedade”.
Transformar o coração requer não considerar mais a Criação como um objeto a explorar, mas, sim, “guardá-la como um sacro dom do Criador”, o que levará à prática do respeito ecológico “para com Deus, para com os nossos semelhantes de hoje e de amanhã, para com toda a natureza e para com nós próprios”.
Quanto à mudança em estilos de vida, o Pontífice recomenda “menor desperdício e menos consumos inúteis, sobretudo onde os processos de produção são tóxicos e insustentáveis; (…) e o uso mais moderado possível dos recursos, praticando uma jubilosa sobriedade, separando e reciclando o lixo e recorrendo a produtos e serviços – e há tantos à nossa disposição – que sejam ecológica e socialmente responsáveis”.
Por fim, o Papa ressalta ser preciso transformar as políticas públicas e econômicas “que favorecem riquezas escandalosas para poucos e condições degradantes para tantos, decretam o fim da paz e da justiça”, e pede para que as autoridades mundiais façam uma transição rápida e equitativa que ponha fim à era dos combustíveis fósseis.
AÇÃO E ORAÇÃO
Na abertura das atividades, no dia 1º, aconteceu um Momento Ecumênico Global de Oração, transmitido pelo site do Tempo da Criação – https://seasonofcreation.org – durante o qual líderes religiosos do todo o mundo conduziram reflexões acerca do cuidado com a casa comum.
Ao longo de todos os 34 dias do Tempo da Criação, há o convite para que a temática do símbolo de 2023 (“Um poderoso rio”) seja tratada nas missas dominicais, em momentos de oração comunitária; e em outras ocasiões em que se reflita sobre os impactos da injustiça climática.
No Brasil, o Movimento Laudato Si, a Rede Eclesial Pan-Amazônica e as Comissões Episcopais Especiais para a Amazônia e para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB prepararam uma programação especial.
A celebração de abertura ocorreu com missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, no dia 3. “Vamos ter sede de cuidar da Criação, cuidar da água que está poluída, plantarmos árvores, termos consciência de que o lugar do lixo é no lixo, e a natureza também está com essa sede de viver para o nosso bem e para a vida de todos”, exortou Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida (SP).
Em mensagem de vídeo, Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília (DF) e Secretário-geral da CNBB, lembrou que o Tempo Ecumênico da Criação “é um evento aberto a todos os homens e mulheres de boa vontade do mundo inteiro para rezar e cuidar da criação de Deus” e orientou que a temática seja abordada nas comunidades por meio de ações que fortaleçam “este movimento ecumênico em favor da vida, da criação e de nossa casa comum”.
Nos dias 14, 21 e 28, sempre às 20h, ocorrerão ciclos de debates on-line sobre os biomas brasileiros. Já entre 13 e 15, está programado o “IV Encontro de Ecoteologia e I Semana Teológica e Filosófica”, na Faculdade Católica do Amazonas, em Manaus (AM).
A celebração de encerramento será em 4 de outubro, às 20h, de modo on-line. Nessa mesma data, o Papa Francisco irá lançar uma exortação apostólica que será uma continuidade à encíclica Laudato si’ – sobre o cuidado da casa comum.
TEMPO ECUMÊNICO DA CRIAÇÃO 2023
De 1º de setembro a 4 de outubro
Tema: “Que a justiça e a paz fluam”
Saiba mais detalhes em: https://seasonofcreation.org
Da Redação, colaboração Daniel Gomes – O São Paulo