Em mensagem, Papa pede o fim da “guerra insensata contra a Criação”
Da redação; Foto: William Krause na Unsplash
Nesta quinta-feira, 25, foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. A apresentação se deu por meio de uma coletiva organizada pela Sala de Imprensa da Santa Sé. A data será comemorada em 1º de setembro e abre o Tempo da Criação, que se estende até a festa de São Francisco de Assis, em 4 de outubro.
“Que jorrem a justiça e a paz” é o tema escolhido pelo Papa Francisco para este Tempo da Criação. A inspiração vem do livro do profeta Amós, em que está escrito “jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca” (cf. Am 5,24).
Na mensagem, o Santo Padre afirma que a justiça é uma virtude fundamental para a vida de filhos de Deus. Ao procurar ser justo, se esforçando para viver de acordo com a lei de Deus, cada indivíduo permite à vida florescer plenamente.
“Quando buscarmos antes de tudo o Reino dos Céus, mantendo uma justa relação para com Deus, a humanidade e a natureza, então a justiça e a paz poderão jorrar como torrente inexaurível de água pura, vivificando a humanidade e todas as criaturas”, escreve o Papa.
No ritmo da criação
Francisco escreve que é preciso estar em consonância com a palpitação materna da terra e o ritmo da criação. “Assim como o batimento dos bebês, ainda no seio materno, está em harmonia com o das mães, assim também para crescer como seres humanos precisamos cadenciar os ritmos da existência com os da criação que nos dá vida”, explica.
Neste contexto, o Pontífice convida todos a estar ao lado das vítimas da injustiça ambiental e climática. Ele clama pelo fim da “guerra insensata contra a criação” e denuncia o consumismo voraz, que transtorna o ciclo d’água.
“O uso desenfreado de combustíveis fósseis e a destruição das florestas estão a criar uma subida das temperaturas e a provocar secas graves. Terríveis carências hídricas estão a afligir cada vez mais as nossas casas, desde as pequenas comunidades rurais até as grandes cidades. Além disso, indústrias predatórias estão a esgotar e poluir as nossas fontes de água potável com atividades extremas, como o fraturamento hidráulico para a extração de petróleo e gás, os megaprojetos de extração descontrolada e a engorda acelerada de animais. Apropriam-se da ‘irmã água’ – como lhe chama São Francisco –, transformando-a em ‘mercadoria sujeita às leis do mercado’”, detalha o Santo Padre.
Citando o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o Papa exorta todos a ação e a não desperdiçar a chance de criar um mundo mais sustentável e justo. “‘É tanto o que se pode fazer’, se, no final, como tantos riachos e torrentes, confluirmos num rio caudaloso para irrigar a vida deste nosso planeta maravilhoso e das gerações futuras da nossa família humana. Unamos as mãos e demos passos corajosos, para que a justiça e a paz jorrem em toda a Terra”, convida.
Transformar para cuidar
Para isso, Francisco dá quatro sugestões de como agir diante do problema. Primeiro, cada ser humano deve transformar seu coração. Recordando São João Paulo II, a mensagem destaca a conversão ecológica, “a renovação do nosso relacionamento com a criação, de modo que já não a consideremos como objeto a explorar, mas, ao contrário, guardemo-la como um sacro dom do Criador, (…) para com Deus, para com os nossos semelhantes de hoje e de amanhã, para com toda a natureza e para com nós mesmos”.
A segunda proposta do Papa é transformar os estilos de vida. “Com a ajuda da graça de Deus, adotemos estilos de vida com menor desperdício e menos consumos inúteis, sobretudo onde os processos de produção são tóxicos e insustentáveis. Procuremos estar o mais possível atentos aos nossos hábitos e opções econômicas, para que todos possam estar melhor: (…) fazendo o uso mais moderado possível dos recursos, praticando uma jubilosa sobriedade, separando e reciclando o lixo e recorrendo a produtos e serviços – e há tantos a nossa disposição – que sejam ecológica e socialmente responsáveis”, aconselha.
O terceiro ponto é a transformação das políticas públicas adotadas em todo o mundo. O Santo Padre afirma que as medidas favoráveis ao acúmulo de riqueza de alguns e à imposição de condições degradantes a outros decretam o fim da justiça. Ele cita ainda o objetivo de “suspender” o risco do aquecimento global, considerando “insensato permitir a exploração e expansão contínua das infraestruturas para os combustíveis fósseis”.
Todos caminham juntos
No contexto eclesial, Francisco cita como quarta ferramenta a sinodalidade. “À semelhança duma bacia hidrográfica com os seus numerosos afluentes grandes e pequenos, a Igreja é uma comunhão de inumeráveis Igrejas locais, comunidades religiosas e associações que se alimentam da mesma água. Cada fonte acrescenta a sua contribuição única e insubstituível, até confluírem todas no vasto oceano do amor misericordioso de Deus. Como um rio é fonte de vida para o ambiente que o rodeia, assim a nossa Igreja sinodal deve ser fonte de vida para a casa comum e quantos nela habitam”, declara.
Encerrando sua mensagem, o Papa exorta todos a viver, trabalhar e rezar para que a casa comum seja novamente repleta de vida. E pede a Deus “que o Espírito Santo continue a pairar sobre as águas e nos guie para renovar a face da terra”.