E junto da cruz, dolorosa, estava Nossa Senhora
A memória de Nossa Senhora das Dores, em 15 de setembro, é ocasião propícia “para se reviver um momento decisivo da história da Salvação, e para venerar, juntamente com o Filho ‘exaltado na cruz, a Mãe que com Ele compartilha o sofrimento’”, escreveu São Paulo VI na exortação apostólica Marialis Cultus (Mc 7).
De origem devocional, essa celebração passou a ser permitida oficialmente em 1692, pelo Papa Inocêncio XII, e em 1814 Pio VII estendeu-a para toda a Igreja.
‘STABAT MATER’
A difusão do culto à ‘Mater Dolorosa’ remonta ao século XIII, especialmente por meio da Ordem dos Servos de Maria. É deste mesmo período a famosa Sequência “Stabat Mater”, cuja autoria é atribuída ao Frei Jacopone de Todi (1230-1306).
No verso inicial, as palavras Stabat Mater dolorosa (“Estava a Mãe dolorosa”) aludem ao sofrimento da Mãe de Jesus, que ao ver seu filho na cruz, sente “o coração transpassado” e o cumprimento da “cruel profecia” (estrofe 2) que o velho Simeão lhe fizera na apresentação do Senhor no templo (cf. Lc 2,34-35). A Sequência retrata, ainda, a desolação da Virgem Maria com a morte do Filho, a postura do cristão que busca acolher a Mãe neste momento de sofrimento, ao mesmo tempo em que confia que a morte de Cristo na Cruz confirma a Salvação por Ele anunciada.
Desde 1727, por autorização do Papa Bento XI, o Stabat Mater pode ser adotado como sequência da missa e como hino da Liturgia das Horas na memória litúrgica de Nossa Senhora das Dores, em 15 de setembro.
AS SETE DORES
Uma das devoções mais populares à Virgem Maria é a de suas sete dores, representadas pelas sete espadas cravadas em seu coração. A seguir, apresentamos as sete dores, relacionando-as com apontamentos dos papas e de santos a respeito de como Nossa Senhora também as suportou por amor a toda a humanidade.
1ª – A profecia de Simeão
“Eis que este menino está destinado a ser ocasião de queda e elevação de muitos em Israel e sinal de contradição. Quanto a ti, uma espada te transpassará a alma” (Lc 2,34-35).
“As palavras do velho Simeão, anunciando a Maria a Sua participação na missão salvífica do Messias, põem em evidência o papel da mulher no mistério da redenção. Com efeito, Maria é não só uma pessoa individual, mas também a ‘filha de Sião’, a mulher nova posta ao lado do Redentor, para compartilhar a Sua paixão e gerar, no Espírito, os filhos de Deus. Essa realidade é expressa pela representação popular das ‘sete espadas’ que trespassam o coração de Maria: a representação evidencia a ligação profunda entre a mãe, que se identifica com a filha de Sião e a Igreja, e o destino de sofrimento do Verbo encarnado”.
São João Paulo II
em Audiência Geral – 08/01/1997
2ª – A fuga para o Egito
Pelo caminho, a Sagrada Família enfrenta incertezas e dificuldades, mas mantém a plena confiança no Senhor.
Santo Afonso Maria de Ligório (1696- 1787) escreveu que a Virgem e Jesus passaram pelo mundo como fugitivos e deixaram à humanidade a seguinte lição: “Temos de viver na terra como peregrinos, sem apegos aos bens que o mundo nos oferece”.
3ª – A perda de Jesus no templo
“A Mãe de Deus, que buscou afanosamente o seu Filho, perdido sem culpa Dela, que experimentou a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a desandar o andado, a retificar o que for preciso quando pelas nossas leviandades ou pecados não conseguirmos distinguir Cristo. Alcançaremos assim a alegria de abraçá-lo de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos”.
São Josemaría Escrivá
Amigos de Deus, 278
4ª – Maria encontra Cristo a caminho do Calvário
“Ela seguia Jesus. Até o Calvário. E ali, em pé… as pessoas certamente disseram: ‘Mas, pobre mulher, como deve sofrer’, e os malvados certamente disseram: ‘Mas, a culpa também é dela, porque se ela o tivesse educado bem, isto não teria acabado assim’. Ali estava ela, com o Filho, com a humilhação do Filho (…) Hoje far-nos-á bem parar um pouco e pensar na dor e nos sofrimentos de Nossa Senhora. Ela é a nossa Mãe. E como os carregou, como os suportou bem, com força, com choro: não era um choro falso, era precisamente o seu coração destruído pela dor”.
Papa Francisco
Homilia de 03/04/2020
5ª – A crucifixão de Jesus
Maria acompanha todo o sofrimento de Jesus e aceita a vontade de Deus.
“Ainda que no desígnio de Deus a maternidade de Maria se destinasse, desde o início, a estender-se à humanidade inteira, somente no Calvário, em virtude do sacrifício de Cristo, ela se manifesta na sua dimensão universal. As palavras de Jesus ‘Eis aí o teu filho’ realizam aquilo que exprimem, constituindo Maria mãe de João e de todos os discípulos destinados a receber o dom da Graça divina”.
São João Paulo II
Audiência de 23/04/1997
6ª – Maria recebe o Corpo de Jesus deposto da cruz
Ele é colocado nos braços de sua mãe, que o recebe com ternura.
“É o momento de [tu, cristão] acudires à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha em seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que doa, esse pormenor que estorva e que Deus e tu conheceis bem. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para sussurrar-te: Isso? Mas caso se trate de uma circunstância boba, insignificante! E tu respondes, sem dialogar mais com a tentação: Entregar-me-ei também nessa exigência divina!”
São Josemaría Escrivá
Amigos de Deus, 134
7ª – Jesus é colocado no sepulcro
Maria leva ao sepulcro o corpo de Jesus. Está desolada, mas confiante de que Ele ressuscitará.
“A partir da cruz, ficastes mãe de uma maneira nova: mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo. A espada da dor trespassou o vosso coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objetivo? Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da anunciação: ‘Não temas, Maria!’ (…) junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus, Vós tornastes-Vos mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza da esperança, caminhastes para a manhã de Páscoa. A alegria da Ressurreição tocou o vosso coração e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé”.
Papa Bento XVI
Encíclica Spe salvi, 50 – ano de 2009
STABAT MATER
De pé, a Mãe dolorosa,
junto da cruz, lacrimosa,
via Jesus que pendia.
No coração transpassado
sentia o gládio enterrado
de uma cruel profecia.
Mãe entre todas bendita,
do Filho único, aflita,
à imensa dor assistia.
E, suspirando, chorava,
e da cruz não se afastava,
ao ver que o Filho morria.
Pobre mãe, tão desolada,
ao vê-la assim transpassada,
quem de dor não choraria?
Quem na terra há que resista,
se a mãe assim se contrista
ante uma tal agonia?
Para salvar sua gente,
eis que seu Filho inocente
suor e sangue vertia.
Na cruz por seu Pai chamando,
vai a cabeça inclinando,
enquanto escurece o dia.
Faze, ó Mãe, fonte de amor,
que eu sinta em mim tua dor,
para contigo chorar.
Faze arder meu coração,
partilhar tua paixão
e teu Jesus consolar.
Ó santa Mãe, por favor,
faze que as chagas do amor
em mim se venham gravar.
O que Jesus padeceu
venha a sofrer também eu,
causa de tanto penar.
Ó dá-me, enquanto viver,
com Jesus Cristo sofrer,
contigo sempre chorar!
Quero ficar junto à cruz,
velar contigo a Jesus,
e o teu pranto enxugar.
Virgem Mãe tão santa e pura,
vendo eu a tua amargura,
possa contigo chorar.
Que do Cristo eu traga a morte,
sua paixão me conforte,
sua cruz possa abraçar!
Em sangue as chagas me lavem
e no meu peito se gravem,
para não mais se apagar.
No julgamento consegue
que às chamas não seja entregue
quem soube em ti se abrigar.
Que a santa cruz me proteja,
que eu vença a dura peleja,
possa do mal triunfar!
Vindo, ó Jesus, minha hora,
por essas dores de agora,
no céu mereça um lugar.
Extraído de Lecionário III (Santoral), pp. 173-174
Da Redação, com Daniel Gomes – O São Paulo