DOM SERGIO DA ROCHA FALA SOBRE O PAPEL DO CONSELHO DE CARDEAIS: “BUSCAR A COMUNHÃO EM VISTA DA MISSÃO DA IGREJA”
No dia 7 de março de 2023, o Papa Francisco renovou o Conselho dos Cardeais, uma novidade do atual pontificado criado no dia 28 de setembro de 2013. Entre os nove novos membros está o arcebispo de Salvador (BA) e primaz do Brasil, cardeal Sergio da Rocha, que participou da primeira reunião do organismo, realizada no Vaticano dias 24 e 25 de abril de 2023. Dom Sergio participou do início da 60ª AG CNBB e durante a realização da Assembleia viajou ao Vaticano para a reunião e retornou ao encontro dos bispos.
O cardeal considera a sua nomeação para o Conselho pelo Papa como uma graça e dom de Deus. Em contrapartida, disse encarar a missão como uma tarefa muito exigente, uma responsabilidade grande e um serviço que ele vai prestar à Igreja.
Dom Sergio da Rocha recordou a insistência do Santo Padre para não entender as nomeações como honraria, mas como serviço. “De fato, desde o primeiro momento em que recebi esse comunicado, me coloco a serviço efetivamente e espero estar sendo um servidor da Igreja quando participo dessas reuniões”, disse.
O purpurado brasileiro afirmou que o próprio Conselho de Cardeais já se colocou na perspectiva sinodal a partir do que Francisco vem propondo como caminho para a Igreja universal. “O Santo Padre tem insistido em que o Conselho de Cardeais seja um instrumento de comunhão, participação e missão. A sinodalidade pressupõe sempre esse espaço de diálogo, de corresponsabilidade, de discernimento conjunto, uns à escuta dos outros e todos à escuta do Sucessor de Pedro, e junto com o sucessor de Pedro à escuta do Espírito Santo”, enfatizou.
O Conselho, segundo dom Sergio, constitui-se primeiramente num espaço de diálogo e discernimento junto do Papa. “Naturalmente, prestando um serviço ao sucessor de Pedro, mas buscando justamente a comunhão em vista da missão”, apontou.
O arcebispo primaz do Brasil disse que se sente propriamente um representante de seu país ou da América Latina, uma vez que no Conselho não existe o critério de representatividade. Por outro lado, ele disse que tem a oportunidade de levar a experiência da vida da Igreja no Brasil e sua missão na América Latina.
Ele disse que deseja continuar levando ao Conselho as alegrias, dores e preocupações do continente. Dom Sergio disse que espera “contribuir sempre mais nesse Conselho de Cardeais a partir de nossa vivência eclesial, a partir da missão em América Latina, naturalmente sempre atento aos desafios, mas também levando nossos valores, nossa experiência”.
Diálogo e fraternidade como caminho de paz
Ele espera que “nós possamos como Conselho de Cardeais contribuir efetivamente com a missão do sucessor de Pedro no discernimento das questões que o próprio Papa quiser apresentar e tudo aquilo que nós podemos levar também para essas reuniões”.
Independente de resultados, o primaz do Brasil, considera que a iniciativa tem um profundo eclesiológico e sinodal muito profundo. Disse sentir-se muito agradecido diante de Deus, diante do Papa Francisco, e ao mesmo tempo com esse senso de corresponsabilidade, mas de saber que não está ali em nome próprio, mas também em nome da Igreja da qual é originário.
O cardeal considera o Papa Francisco um exemplo extraordinário de diálogo e de escuta. “O diálogo supõe escutar e aprender com o outro e reconhecer seus valores. A atitude do Santo Padre de escuta de escuta é muito generosa e ele vê o conselho não apenas como uma instância mas um espaço de diálogo com o Papa”, disse.
Essa mesma característica, o cardeal afirmou enxergar no Conselho do Sínodo, espaço do qual participa desde o Sínodo da Juventude, em 2018. “Nesse conselho, que o Papa preside, nós temos uma atenção muito grande a Sumo Pontífice. O Papa é capaz de nos ouvir durante muito tempo, sem interferir, de ouvir atentamente o que se diz, e depois, naturalmente, a palavra é dele. Se trata de um diálogo, essa escuta também é recíproca, de alguma forma nós também queremos ouvi-lo”, ressaltou.
Como exemplo de diálogo na Igreja, o cardeal aponta a Carta Encíclica do Concílio Vaticano II, Ecclesiam Suam. No documento, apontou dom Sergio, se propõe vários níveis e tipos de diálogo, dentro da Igreja e com o mundo.
“O mundo de hoje precisa de diálogo como caminho de paz, o Papa Francisco tem insistido muito nisso, no diálogo, na fraternidade como um caminho de paz, seja em nível mais interpessoal, no dia a dia, nos ambientes onde se vive, mas sobretudo nas nossas comunidades”, enfatizou.
O cardeal ressaltou também a importância do diálogo entre as lideranças, nos vários níveis. “Hoje, se fomos ver, o diálogo é tão necessário entre lideranças, seja num país, seja entre os países, num mundo em guerra, num mundo tão sofrido, em situações de conflito. Temos mais ainda a necessidade de recorrer ao diálogo como caminho de paz e expressão de fraternidade”.