Diocese São Carlos fev 15, 2024

CELEBRAR O CICLO PASCAL

CELEBRAR O CICLO PASCAL

Por Adenor Leonardo Terra, Comissão de Liturgia Diocesana

No dia 14 de fevereiro, com a solenidade de Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o Tempo da Quaresma e, com ele, o Ciclo Pascal. Vale a pena, primeiramente, fazer a distinção entre tempo e ciclo. Quando falamos de ciclo, referimo-nos a algo mais amplo, que compreende um tempo de preparação para uma festa, o dia da festa propriamente dito e um tempo de prolongamento desta festa. Assim, podemos definir o Ciclo da Páscoa como sendo o Tempo da Quaresma (tempo de preparação), o Tríduo Pascal (que culmina com o Domingo de Páscoa) e o Tempo Pascal (que se encerra com a solenidade de Pentecostes). Entender este itinerário litúrgico é fundamental para bem compreendermos o sentido de cada celebração ao longo deste período.

Neste Ano B, as leituras do Tempo da Quaresma nos apresentam um conteúdo fortemente cristológico. Encontramos, por exemplo, Jesus que expulsa os vendilhões do templo (3º domingo), que se encontra com Nicodemos (4º domingo) e que anuncia a sua Páscoa, por meio da parábola do grão caído na terra (5º domingo).

É importante lembrar que o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, embora tenha uma dinâmica diferente dos domingos anteriores, ainda faz parte do Tempo da Quaresma. Neste dia, recordamos a exaltação a Cristo como o Messias, exaltação esta que se completa no momento de sua total entrega ao Pai, pela cruz.

Para a Igreja no Brasil, oportunamente, temos a Campanha da Fraternidade, que integra a Quaresma como uma proposta de gesto de conversão e caridade. Para este ano, a CNBB nos propõe o tema “Fraternidade e amizade social”, com o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,84)”. A expressão “amizade social” é usada pelo Papa Francisco na encíclica “Fratelli Tutti”. Ele afirma que a amizade social vai além de um sentimento de estima, apresentando-se como uma forma autêntica de construção do tecido social. Tem como caminho o diálogo, necessário para a cultura do encontro.

Iniciando a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, encerramos o Tempo da Quaresma e adentramos ao Tríduo Pascal (coração do ano litúrgico), no qual vivenciamos o mistério da cruz do Senhor em sua totalidade. A antífona de entrada da Missa da Ceia do Senhor nos apresenta o motivo principal desta que é, na verdade, uma única celebração em três dias: “Nós, porém, devemos gloriar-nos na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo; nele está a salvação, nossa vida e ressurreição; por ele somos salvos e libertos” (Gl 6,14). Após a ceia pascal, celebramos com grande despojamento o sacrifício de Cristo até as últimas consequências, com sua morte na cruz. Transcorrido o silêncio do Sábado Santo, eis que a solene Vigília Pascal recorda-nos toda a História da Salvação, que se consolida com a ressurreição do Senhor; e o Domingo de Páscoa confirma-nos a vitória de Cristo sobre a morte, razão pela qual a Igreja exalta de alegria: “este é o dia que o Senhor fez para nós!” (Sl 117).

E desta forma, damos início ao Tempo Pascal, que se estende até a Solenidade de Pentecostes, prolongando por 50 dias a alegria da ressurreição. Este período, que deve ser celebrado como se fosse um único dia festivo, é também a Páscoa (passagem) da Igreja para uma vida nova junto ao Senhor ressuscitado, superando a escravidão do pecado, da injustiça e da opressão. Na última semana do Tempo Pascal, entre as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes, somos também convidados a orar pela unidade dos cristãos, conforme vontade manifestada pelo próprio Cristo, antes de partir para a casa do Pai: “que todos sejam um” (Jo 17,21).

Que a vivência deste grande ciclo nos impulsione, cada vez mais, a atitudes de conversão, paz, diálogo e acolhimento, motivando-nos sempre à unidade e ao serviço. Assim, sempre que celebrarmos a memória da Páscoa do Senhor, possamos promovê-la em nosso dia a dia!

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