Cardeal Leonardo Steiner destaca que os povos indígenas não são levados em consideração pelo Congresso Nacional
(CNBB)
A Amazônia é uma realidade sempre presente na vida da Igreja do Brasil, algo que se expressa de modo preferente na Comissão Especial para a Amazônia (CEA), criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 2003. Temáticas relacionadas com a Amazônia foram abordadas na coletiva de imprensa da terça-feira: a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o papel da Comissão Especial para a Amazônia e a COP30.
CEAMA, um espaço de diálogo e sinodalidade
A CEAMA é uma Conferência Eclesial a pedido do Papa Francisco, a quem o Sínodo para a Amazônia tinha pedido a criação de uma Conferência Episcopal da Amazônia. Os membros que formam a CEAMA são as Igrejas particulares que estão na Pan-Amazônia, segundo explicitou o arcebispo de Manaus (AM) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), cardeal Leonardo Steiner. Na presidência tem representantes dos bispos, dos padres, da Vida Religiosa, do laicato e dos povos indígenas.
Segundo o cardeal, “a CEAMA ainda precisa achar o seu caminho, o seu espaço, para que realmente seja um espaço de diálogo, um espaço de sinodalidade”. Entre os elementos que estão caminhando mais, destacou o Rito Pan-Amazônico, que “não se trata apenas de um rito litúrgico, mas pensar como a Igreja que está na Amazônia pode se expressar e organizar”.
Com relação ao CIMI, seu presidente destacou os 52 anos de existência de “um dos elementos talvez da Igreja do Brasil junto aos povos indígenas, não apenas defendendo seus direitos, mas ajudando também os povos a se organizarem”, que fez com que hoje existam muitas organizações indígenas. O trabalho do CIMI hoje está mais voltado para os povos com pequeno número, destacando o acompanhamento que o CIMI está fazendo do Marco Temporal, “uma questão vital para os povos indígenas”.
CEA compromisso dos bispos do Brasil com a Amazônia
A Comissão Especial para a Amazônia, constituída pelos seis presidentes dos regionais da Amazônia, que representam 58 Igrejas particulares, ela é, segundo o arcebispo de São Luís e presidente da CEA, dom Gilberto Pastana de Oliveira, “a expressão do compromisso de todos os bispos do Brasil para com a Amazônia”, e ela tem por objetivo, “visibilizar a ação evangelizadora da Igreja nessa região, olhando sobretudo as principais dificuldades que a Igreja passa”. A Comissão ajuda a estabelecer pontes entre as Igrejas irmãs e traz para o Brasil o conhecimento da Amazônia, “muitas igrejas, muitos regionais não conhecem a realidade dos povos indígenas, dos ribeirinhos, dos quilombolas, dos que habitam essa região’, enfatizou dom Gilberto.
COP30 e a incidência da Igreja na conversão ecológica
Belém (PA) acolhe entre 10 e 21 de novembro de 2025 a COP30 e em vista desse grande evento, a Presidência da CNBB constituiu uma comissão em vista da COP30, da qual fazem parte o bispo auxiliar de Belém (PA), dom Paulo Andreolli, o bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA), dom Vicente de Paula Ferreira, e o bispo de Vacaria (RS), dom Sílvio Guterres Dutra, junto com outras entidades e comissões.
O objetivo dessa comissão é “coordenar ações de formação, de articulação, de incidência política e comunicação”, que será “um canal oficial da Igreja do Brasil para articulação e diálogo”, segundo o bispo auxiliar de Belém (PA). Ele destacou a proposta de uma construção coletiva, com eventos antes, durante e depois da COOP, buscando “aproveitar a celebração da COP30 no Brasil para fortalecer o grau de incidência da Igreja em vista da conversão ecológica e da transformação socioambiental do Planeta à luz d Doutrina Social da Igreja”.
Catequistas indígenas
Os jornalistas perguntaram sobre o fato de dona Deolinda Melchior da Silva, indígena do povo macuxi ter recebido o ministério de catequista. Respondendo à pergunta, o cardeal Steiner disse que “os povos indígenas são profundamente religiosos”, destacando a grande presença da Igreja entre os povos indígenas da Amazônia, colocando a dona Deolinda como “um exemplo de uma grande catequista, ela vai visitando aldeias e vai levando o Evangelho”. Os bispos do regional Norte1 fizeram questão que “fosse uma indígena, pelo modo dela ser catequista”, destacando a tentativa dos catequistas indígenas de fazer o encontro do Evangelho com a própria religiosidade dos povos. O cardeal destacou que na cultura indígena catequista e liderança são as mesmas pessoas, e que eles fazem caminhar a comunidade eclesial muito bem.
Uma dinâmica inspirada no Documento de Santarém 1972, onde aparece como prioridade a encarnação na realidade e a formação de lideranças, destacou o presidente da CEA, falando sobre a vivência do sacramento do batismo através do exercício desses ministérios. Segundo o arcebispo de São Luís, “o papel do leigo na Amazônia é fundamental, porque são eles que animam a comunidade”, dada a pouca presença dos ministros ordenados. São os catequistas, homens e mulheres que “fazem acontecer a vida eclesial nesses lugares”.
Ele encara a presidência da CEA como uma missão numa Comissão que pretende resgatar todas as decisões que foram assumidas nos encontros dos bispos da região amazônica, visitando os regionais para fazer uma síntese dos regionais, onde estão presentes realidades diversificadas. Um caminho que pretende avançar no V Encontro da Igreja Católica na Amazônia programado de 19 a 22 de agosto de 2024 em Manaus, e escutar os maiores gritos e demandas que exigem respostas dos bispos.
Em preparação à COP30, existem várias iniciativas em vista da conscientização do povo com relação à ecologia integral, segundo dom Paulo Andreolli, querendo envolver a juventude, a Igreja do território, o Círio de Nazaré, querendo organizar uma Vigília ecumênica. Tudo isso em vista da conversão ecológica, uma realidade presente na Campanha da Fraternidade 2025, que tem como tema a ecologia integral.
O futuro da Igreja será sinodal
A CEA fez um caminho depois de Santarém 72, que foi dar no Sínodo para a Amazônia, que o cardeal Steiner definiu como “um laboratório de participação extraordinária de todos os segmentos da Igreja”. Segundo o arcebispo de Manaus, “o futuro da Igreja será sinodal, no sentido de cada vez mais nós como Igreja, todos os batizados estarmos sendo cada vez mais ativos assumindo a missão do Evangelho”. Dom Leonardo colocou a Igreja do Norte do Brasil como exemplo de tomada de decisões, onde nas assembleias todos votam as linhas pastorais, as linhas de evangelização, uma participação que considera necessária. Como membro do Sínodo, ele lembrou da consciência que está se criando devagarinho da “necessidade de participação de todos os batizados”, esperando elementos mais práticos na segunda sessão da Assembleia Sinodal.
Com relação aos povos indígenas, o cardeal destacou sua sensibilidade religiosa e fraterna como uma das suas grandes contribuições à Igreja. O espírito de pertença dos povos indígenas, “nos faz muito bem, nos ajuda, nos sentimos pertencentes à Igreja”, enfatizou. Um ensinamento dos povos indígenas que ele destacou em relação à casa comum, o respeito e cuidado que tem em relação à natureza.
O presidente do CIMI denunciou que “não têm sido valorizados na sociedade brasileira, não são levados em consideração pelo Congresso Nacional”. Ele ressaltou o trabalho do CIMI para que os povos indígenas sejam valorizados, “porque eles fazem parte da nossa sociedade, e tem muito a nos ensinar, também como Igreja”, relatando experiências belíssimas de como ir resgatando a cultura indígena, demandando paciência para “escutar e ter a sensibilidade de perceber onde que está a profundidade da religiosidade ou das relações e não ficarmos com nosso olhar ocidental”, e saber ouvir, seguindo o pedido do Papa Francisco.