Pe. Rubens jun 10, 2021

UM CORAÇÃO CHEIO DE AMOR

UM CORAÇÃO CHEIO DE AMOR

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

 

Nesta sexta-feira, 11 de junho, a Igreja celebra o Sagrado Coração de Jesus. Dentro das solenidades do Senhor que são colocadas no calendário litúrgico, nas primeiras semanas da retomada do Tempo Comum (a primeira parte do Tempo Comum tem início após a Festa do Batismo do Senhor e vai até a terça-feira de Carnaval, interrompe-se na quarta-feira de Cinzas e a segunda parte vai da segunda-feira após a solenidade de Pentecostes até a última semana, a 34ª após a solenidade de Cristo Rei), a Igreja celebra o Sagrado Coração de Jesus. Além de ser uma grande devoção da Igreja, o Coração de Jesus é outra forma de manifestar o grande acontecimento da Revelação divina: a Encarnação do Verbo, do Filho eterno de Deus, Jesus Cristo (cf. Jo 1,14; também Lc 1,26-38). Que o Filho de Deus tenha um coração significa que Ele assumiu a condição humana e está tão próximo de nós que a nossa natureza, o nosso coração está no seio de Deus.

O Coração de Jesus lembra a todos nós que a Humanidade de Jesus é o grande sacramento da manifestação de nosso Deus para todos os homens e mulheres. Ao assumir um “coração”, isto é, tornar-se Homem, o Filho de Deus assume e revela aos homens e mulheres tudo o que as Sagradas Escrituras indicam sobre o “coração de Deus”, especialmente no Antigo Testamento. São no total 26 afirmações sobre o coração de Deus, que indicam não sentimentos, mas a própria existência divina. Trata-se de sua afeição pelo ser humano, criado à sua imagem e semelhança. E uma afeição motivada sempre pela sua misericórdia (Os 11,8: “Como te entregarei, Efraim, te abandonarei, Israel? Como te entregarei como Adma, te tornarei como Seboim? Meu coração se contorce dentro de mim, juntas, comovem-se minhas entranhas”). É nítido que se expressa o Plano de Deus e os pensamentos de seu coração: ao criar o homem desejou dar-lhe o seu amor e sua misericórdia, que o homem viva na sua companhia e amizade, que viva da escuta de sua palavra e se torne seu filho. Para isso, o Filho eterno que se fez Homem se apresenta como o modelo: Mt 11,19: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso…”).

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que recebeu um impulso graças às aparições de Jesus relatadas por Santa Margarida Maria de Alacoque (1647-1690). Através dela se tornou uma devoção muito popular, embora não seja desse tempo o surgimento dessa devoção. De fato, a realidade da Encarnação é a fonte dessa devoção. E mais ainda, da consciência de que o Coração de Jesus é símbolo do amor misericordioso de Deus, um símbolo que não somente é metafórico, mas real, no sentido humano de ser. Isso lembra, desde os tempos dos escritores da Igreja dos primeiros séculos, a reflexão sobre a cena da cruz, onde se narra que do lado aberto pela lança do soldado (cf. Jo 19,34), jorrou sangue e água do seu coração. Além do fato de que essa cena foi interpretada como símbolos dos Sacramentos do Batismo e da Eucaristia, também foi vista como “saindo” do coração de Jesus o Espírito Santo que Ele tinha recebido no Jordão quando foi batizado por João (cf. Mt 3,16s; ver também Lc 23,46), e que o entregou aos apóstolos no dia da Ressurreição (cf. Jo 20,22) e para os outros discípulos e discípulas, em Pentecostes (cf. At 2,1-4). Dessas interpretações não se deve deixar de incluir a do surgimento da Igreja. A Igreja nasce do Coração de Jesus. Assim como Eva foi criada do lado aberto de Adão, o que significa por ação de Deus e não por dependência do homem, a Igreja surgiu do lado aberto de Cristo na cruz. Isso quer dizer: a Igreja nasce do símbolo do amor misericordioso de Deus.

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