Diocese São Carlos mar 5, 2025

Quaresma: Convite explícito à conversão

Quaresma: Convite explícito à conversão

A Quaresma é um tempo litúrgico caracterizado pelo convite explícito à conversão, para maior proximidade de Deus e vida conforme a justiça do Reino. É um período de peregrinação para celebrar a Páscoa do Senhor Jesus, centro da liturgia cristã e fonte inesgotável de vida em abundância para todos.

A Páscoa é a maior expressão da ação salvífica de Deus em Cristo em prol do ser humano e de toda a criação. No evento pascal, a morte redentora de Cristo na cruz vence a morte, promove a reconciliação entre Deus e os homens, e origina a Igreja na história, comunidade de pecadores, que experimenta a remissão dos pecados no sangue do Cordeiro de Deus, e recebe a missão de evangelizar.

O peregrinar para a Páscoa comporta 40 dias entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo de Ramos, quando começa a Semana Santa. Quaresma alude aos 40 dias em que Moisés esteve no Monte Sinai para receber a Lei; aos quarenta anos de caminhada de Israel no deserto; e sobretudo, ao tempo vivido por Jesus no deserto, quando Ele venceu as tentações, amparado na Palavra de Deus, na oração e no Jejum.

Esse fato na vida de Jesus, antecipa sua vitória sobre os males, e convida à reflexão do mistério das ofertas do mal pelo tentador, camufladas de bens, que está na origem de todo pecado. Portanto, não é demérito reconhecer-se frágil e pecador, a exemplo de Adão e Eva, e necessitado da misericórdia divina em Cristo. Num tempo de profundas mudanças que impacta as consciências, a quaresma também continua a ressoar para todos o perdão universal em Cristo, no Calvário. E o reconhecimento dos pecados é o primeiro passo para mudanças pessoais e sociais.

Diante disso, é oportuno mencionar a proposta da Campanha da Fraternidade promovida pela Igreja no Brasil durante a Quaresma. Em 2025, o convite à conversão quaresmal abarca a questão ecológica, com o anúncio de que ao criar tudo, Deus viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Entretanto, são claros os sinais das ofensas do ser humano à nossa Casa Comum, as quais podem ser sentidas de modo irrefutável nas mudanças climáticas por todo o planeta.

E essa campanha alerta uma vez mais que se esgota o tempo de tentativa de cuidar da nossa casa e manter essa casa habitável. Se a temperatura média do planeta aumentar mais de dois graus em média, tomando como referência a média registrada no ano de 1850, as condições climáticas, dizem estudos sérios de pessoas competentes, sofrerão ainda mais alterações, as quais impactarão pesadamente na vida da maioria das pessoas.

É preciso mais esforços, desde os pessoais aos acordos entre as nações, para garantir a sustentabilidade do planeta e diminuir o efeito estufa na atmosfera. No entanto, o tempo para tais ações está se esgotando, como lembrava o Papa Francisco na Exortação Apostólica Laudate Deum (2023), e as mudanças requeridas ainda permanecem mais nas intenções e não estão sendo efetivadas na proporção requerida, mesmo diante dos sinais emitidos pela nossa Casa Comum. Desta forma, a Quaresma desse ano pede que seja acrescentada a questão ecológica nos esforços de conversão.

Na Quarta-Feira de Cinzas ressoará nas celebrações o chamado: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. A conversão sincera é dom do Espírito Santo aos corações sinceros que procuram viver segundo a justiça do Reino. A abertura do fiel à ação do Espírito de Deus, encontra grande auxílio na oração, na esmola e no jejum. Quanto ao jejum, a recomendação tradicional da Igreja de não comer carne às sextas-feiras, atualmente tornou-se uma grande contribuição ao cuidado de nossa Casa Comum.

Mas o importante é que cada fiel acolha o chamado à conversão, tenha o seu propósito quaresmal e se empenhe pela senda espiritual com gestos concretos no dia a dia até a Páscoa, momento propício para reavivar a esperança nos corações, dom deste ano Jubilar. Boa Quaresma!

Dom Luiz Carlos Dias
Bispo Diocesano de São Carlos

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