Pastoral da Comunicação: um novo caminho possível
Por Padre Robson Caramano*/ imagem: Daniel Silva
Não é novidade a ninguém que a Pastoral da Comunicação (Pascom) ganhou notoriedade com o advento do coronavírus. Com as Igrejas fechadas para o povo, as transmissões online tornaram-se o único meio dos fiéis acessarem o templo. Desta forma, muitos agentes deste trabalho de comunicação, na Igreja Católica, viram-se como protagonistas de um momento histórico, dentro da instituição religiosa.
A missão não é apenas transmitir o que acontece, mas estabelecer uma nova interação com os fiéis da comunidade. Sempre, na Igreja do Brasil, especificamente, desde 1989, com a primeira campanha da Fraternidade sobre o tema: “Comunicação para Verdade e Paz”, tem-se pensado nas estratégias de comunicação eclesial. Estas estratégias, ao meu ver, culminam com as atuais Pastorais de Comunicação que, diariamente, prestam um enorme serviço às comunidades.
Neste sentido pode-se compreender um novo caminho para a Pascom pós-Pandemia. Não falamos de um simples ligar os equipamentos e transmitir o que acontece, falamos de estabelecer laços entre os fiéis na comunidade virtual. Fiéis consumidores de um conteúdo religioso presente nas redes sociais das Paróquias. Quais os riscos desta ação? É uma pergunta que se poderá responder, por hora, importa saber que este marco no século XXI (a realidade de Pandemia) coloca a Pastoral da Comunicação apontada para um novo rumo.
No ano de 2009, o professor Henry Jenkins lançou o seu livro Cultura da convergência – tendo como termo cunhando por ele, a “cultura da convergência” rompia a tenção entre as velhas e novas mídias. Mais do que resolver um choque de realidade, seu pensamento visa compreender a convergência como um processo de transformação através do qual os consumidores dos produtos oferecidos em mídia (sejam estes produtos imagens, discursos, etc…) estabelecem conexões e trafegam entre o, então, velho e novo mundo dos meios de comunicação e de mídia (JENKINS, 2009, p. 30).
Ao pensar “consumidor” não podemos deixar de considerar a mídia e seu aspecto mercadológico, e como produtora de sentido para o a instituição que dela faz uso. A instituição religiosa não fica fora deste mercado; considerar a fé como mercado seria tema para uma outra reflexão a qual neste momento não nos cabe, no entanto, não podemos deixar de trazer esta realidade tendo em vista que é um mercado forte no Brasil, fomentado na literatura, no cinema, no rádio, e, também, na internet.
A pesquisadora Magali Nascimento Cunha (2016) traz esta abordagem da experiência religiosa midiatizada associada ao conceito mercadológico, em seu artigo Elucidações contemporâneas nos estudos brasileiros em mídia e religião: a perspectiva das mediações culturais e comunicacionais. Em seu texto, trazendo uma abordagem das instituições religiosas denominadas neopentecostais ou evangélicas, que, no entanto, nos possibilita um olhar para a Igreja Católica Apostólica Romana, nos é permitido notar que o processo de midiatização atinge os mesmos fins, uma vez que, segundo as pesquisas de Cunha, torna-se característico deste processo de midiatização, entre as igrejas, a propagação da fé através dos discursos religiosos proferidos. Assim, a presença dos atores religiosos na mídia se dá como estratégia de visibilidade institucional, além da criação de um mercado religioso que vende seus produtos aos fiéis consumidores (CUNHA, 2009, 06).
É nesta perspectiva que a cultura da convergência vai compreender o consumo como um “processo coletivo” gerador de força e poder no que se refere às questões midiáticas. “A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros” (JENKINS, 2009, p. 30).
Estas interações acontecem nas plataformas midiáticas, epicentro do mercado religioso. Lugar onde se encontra a atua Estas interações acontecem nas plataformas midiáticas, epicentro do mercado religioso. Lugar onde se encontra a atuação dos agentes da Pastoral da Comunicação, estes, considerando, também, como produtos seus discursos favorecem o acesso à instituição religiosa. Ganham assim um desafio ímpar na Igreja: refletirem o rosto do Corpo Místico de Cristo nas redes sociais.
Assim, novos caminhos exigirão novas formas de compreensão e caminhada na realidade em que se está inserido. A Pascom assume a característica de um dispositivo híbrido na Igreja, através do qual acontece a convergência entre um modo tradicional de viver a fé (no templo, com a presença física), para uma nova realidade de experiência religiosa (no campo virtual). Um novo caminho para a Pastoral da Comunicação não é, apenas, o dos meios, mas o de adotar a linguagem da mídia para a propagação da fé, com o desafio de proporcionar uma experiência concreta de unidade na comunidade eclesial, também, nas redes sociais.
*Padre Robson Luiz Caramano de Camargo – Assessor de Comunicação e Imprensa da Diocese de São Carlos, Mestre em Linguagem, Mídia e Arte pela PUC Campinas/SP.