Nossa Senhora: de Aparecida para Dois Córregos
As informações deste artigo fazem parte da pesquisa do padre Paulo Dalla Déa e da jornalista Ignez Lobo, que constarão em um livro que já está em processo de diagramação. O livro vai tratar da criação da Diocese de São Carlos e de seu primeiro bispo, Dom José Marcondes Homem de Mello.
A devoção a Nossa Senhora sempre foi muito forte em nossa cidade. Tal fato aumentou ainda mais por causa da proximidade dos doiscorreguenses com o Servo de Deus, padre Vítor Coelho de Almeida, C.SS.R., ainda lembrado pelos mais velhos.
O missionário Redentorista, que está processo de beatificação, esteve em Dois Córregos e região algumas vezes. Hoje ele é considerado “Servo de Deus”, e desde os primórdios da Diocese de São Carlos, ele teve profunda ligação com nossa região. Entre 1925 -1929, durante o bispado de D. José Marcondes, padre Vítor missionou em Araraquara
Padre Vítor fez crescer no povo brasileiro o amor por Nossa Senhora Aparecida. Onde ele ia, levava consigo uma imagem da Padroeira do Brasil. Em suas viagens, Nossa Senhora Aparecida era sua companheira constante, por quem ele manifestava infinito amor e devoção.
Na região de Dois Córregos, padre Vítor esteve pessoalmente pelo menos três vezes, trazendo imagens da Mãe Aparecida. Graças ao trabalho do sr. Arlindo Paulucci e sua esposa Elvira, na captação de associados para a Rádio Aparecida, Dois Córregos foi contemplada com três imagens da Mãe Aparecida.
A primeira imagem chegou na cidade em 1964, trazida pelos padres Vítor e Geraldo, e ela foi entregue na Igreja Matriz Divino Espírito Santo, e que posteriormente, com a criação de uma segunda paróquia na cidade, a Nossa Senhora Aparecida, a imagem mudou de casa.
A segunda imagem que veio para Dois Córregos foi para a Santa Casa, entregue pelo redentorista, padre Galvão, em maio de 1965.
A terceira e última imagem da cidade, foi trazida pelos missionários redentoristas, padres Vítor e Costa e levada para a Usina Santa Adelaide, em Dois Córregos, no dia 8 de maio de 1966.
A terceira passagem de padre Vítor por esta região, que conseguimos comprovar, aconteceu em setembro de 1978, em Torrinha, onde celebrou uma missa na frente da Igreja Matriz São José, e entregou a imagem de Nossa Senhora Aparecida que hoje se encontra na Capela de mesmo nome, na cidade.
Em entrevistas com familiares do senhor Arlindo Paulucci e alguns moradores antigos, conseguimos resgatar um pouco a respeito das chegadas dessas imagens.
Os autores da pesquisa, baseados em reportagens feitas na época, pelo jornal O Democrático, conseguiram descobrir como foi a chegada de cada uma das três imagens na cidade.
Lázaro Donizete Palucci, 65, filho de Arlindo Paulucci, lembra da primeira vez que padre Vítor veio para Dois Córregos. “Padre Vítor desceu a rua XV de Novembro com a imagem em um andor, seguido por uma multidão. A procissão partiu da frente da Capela São Benedito e depois seguiu para a Matriz”, recordou Paulucci.
Nascido em 1943 em Dois Córregos, Moacir Fernandes lembra de quando a imagem de Nossa Senhora Aparecida chegou na cidade. Filho de Dejanira e João Fernandes, que viviam da plantação de arroz, revela que nos primeiros anos da década de 60 o estado de São Paulo foi assolado por uma grande seca e registros históricos confirmam essa informação. A seca que começou em 1963 e se estendeu até 1964 foi gravíssima. A estiagem bateu recordes em vários estados. E Dois Córregos não escapou desta estiagem o que fez com que os devotos de Nossa Senhora Aparecida recorressem a ela pedindo chuva. Foi o que fez a senhora Dejanira, mãe de Moacir. “Após minha mãe ter ido até a nossa plantação e visto o estado que estava por falta de água ela foi até a igreja, se ajoelhou na frente da santinha e pediu que ela mandasse chuva. Na ocasião minha mãe prometeu que se chovesse, ela daria um broche de ouro para fechar a capa da imagem. Dias depois a chuva chegou, salvou a colheita e minha mãe cumpriu sua promessa dando o broche”.
Quando a Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi criada (12/10/2000) a imagem trazida pelo padre Vítor saiu da Matriz do Divino Espírito Santo e foi levada para recém criada paróquia, onde é a padroeira.
Para o padre Valcir Rodrigues Coelho, atual pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, de Dois Córregos, e que este ano completa 20 anos de existência, a origem religiosa da cidade passou pelos agostinianos, que têm tudo a ver com a devoção mariana. “O doiscorreguense é muito devoto de Nossa Senhora, pois Maria é a Mãe de Jesus, mãe dos católicos, mãe dos cristãos e mãe de toda a humanidade. Ela é o nosso referencial, nosso modelo de fé, de esperança, de fidelidade, de obediência, de amor. Ela foi aquela que mais perfeitamente soube responder o seu “sim” a Deus ”.
Sobre a imagem de Nossa Senhora Aparecida que está em sua paróquia, trazida pelo padre Vitor Coelho e sobre o processo de beatificação deste Servo de Deus, padre Valcir destaca a importância. “Padre Vítor é a essência do Santuário Nacional de Aparecida, não conseguimos pensar em Aparecida sem ele. Para nós ele já é um santo, ele só precisa ser reconhecido oficialmente pela Igreja”.
A imagem para a Santa Casa – Em 1965, pelas mãos do sr. Arlindo Paulucci, a Santa Casa recebeu uma imagem de Nossa Senhora Aparecida abençoada e enviada pelo padre Vítor Coelho e desde então, Nossa Senhora se faz presente dentro do hospital.
Nossa Senhora Aparecida na Usina Santa Adelaide – Historicamente a atividade canavieira teve grande relevância política, social e econômica, desde a época colonial até os dias atuais, moldando a economia e as relações sociais em várias regiões do país.
Desta forma, nos últimos anos da década de 30 começava a operar em Dois Córregos, a Cia. Agrícola e Industrial Santa Adelaide, a Usina Santa Adelaide, que logo se tornava o maior empregador da cidade e um dos grandes da região. A produção de cachaça data de 1942; e a primeira safra de açúcar, de 1947. E, talvez por este motivo, que os associados da Rádio Aparecida, residentes em Dois Córregos, resolveram doar para a Usina, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, vinda de Aparecida, por intermédio do sr. Arlindo Palucci e do Padre Vítor Coelho de Almeida.
Em 8 de maio de 1966, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi entronizada na Usina Santa Adelaide, de propriedade de Antônio João de Camargo e Adelaide Mendes Camargo.
Aparecida em Torrinha – Ulismir Aparecido Capelari, formado em História e Serviço Social, é sacristão da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, de Dois Córregos. Católico praticante, desde sempre acompanhava a mãe às missas e celebrações e, em 1968, no final do mês de setembro, ele participou da missa campal celebrada pelo padre Vítor, em Torrinha, na escadaria da Igreja Matriz São José, onde ele fez a entrega da imagem para a igreja da cidade. “Eu tinha 8 anos e morava na zona rural, em Ventania. O padre Vitor veio pouco antes das Santas Missões que seriam realizadas em Dois Córregos e região. Era um dia feio, carrancudo, ameaçando muita chuva. Como a igreja não comportava a multidão que se deslocou para Torrinha para acompanharem a missa, a celebração foi realizada na frente da Matriz, na escadaria. Em determinado momento as pessoas começaram a pegar suas sombrinhas e guardas-chuvas porque parecia que ia desabar o mundo. Foi quando padre Vitor mandou todos deixarem as sombrinhas porque elas não seriam necessárias. Ele disse com muita convicção e fé que não iria cair uma gota de chuva, que a santa celebração seria realizada sem que nada de mal acontecesse, pois Deus e a Virgem Maria estavas presentes lá. Todos fecharam seus guardas-chuvas e não caiu uma gota de água e o sol de abriu num dia lindo! Para mim aquele foi um dos primeiros milagres dele”.
As imagens trazidas pelo padre Vítor são esculturas em madeira, fac-similes (cópias fieis da original). “Na base destas imagens constavam etiquetas adesivas com os seguintes dizeres: Este fac-simile da imagem de Nossa Senhora Aparecida, esculpido em madeira, foi tocado em sua verdadeira e milagrosa imagem, na Basílica Nacional de Aparecida. Na sequência havia a data em que havia sido o toque. De todas as imagens que localizamos em Dois Córregos e Torrinha, apenas a da Usina Santa Adelaide possui a etiqueta; as demais têm as marcas das etiquetas que devem ter se descolado. Em nossas pesquisas localizamos ainda, uma quinta imagem, mas não conseguimos descobrir em que ano ela foi trazida pela região e através de quem ela chegou aqui. Por este motivo preferimos não divulgar onde encontramos essa imagem; nossas pesquisas continuam”, destacou a jornalista Ignez Lobo.
FOTO DE CAPA– Casal Paulucci, em Aparecida, após receberem uma das imagens que vieram para Dois Córregos. Crédito: Arquivo Pessoal de Ivanilde Santesso