Diocese São Carlos jan 26, 2025

Miseráveis pelo pecado, necessitados da Divina Graça

Miseráveis pelo pecado, necessitados da Divina Graça

(Secretaria de Pastoral | Grupo de reflexão bíblico-litúrgico – Diocese de São Carlos)


O Evangelho de Lucas, ao apresentar a missão pública do Senhor revela não apenas o cumprimento das promessas messiânicas, mas também o coração do
Querigma da fé: a libertação integral da humanidade. O texto se inicia com o prólogo (Lc 1,1-4), que confere credibilidade ao Evangelho, destinado a Teófilo, que traz em si o significado de todos que buscam aprofundar sua fé. Em seguida, a cena em Nazaré (Lc 4,14-21) mostra Jesus retornando à sua terra, cheio da força do Espírito, para proclamar a Boa-Nova.

Na reunião litúrgica, ao abrir o rolo do profeta Isaías (61,1-2), Jesus identifica-se como aquele sobre quem repousa o Espírito do Senhor. A declaração solene “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir” inaugura o tempo da salvação. Trata-se de um “hoje” que não apenas atualiza a promessa, mas convida todos a participarem ativamente do Reino. É o Kairós.

A escolha do texto de Isaías é providencial. Ele anuncia uma libertação integral: aos pobres, aos cativos, aos cegos e oprimidos. Os “pobres” são mais que os desprovidos materialmente; simbolizam todos os que nada têm a oferecer em retribuição. São os miseráveis pelo pecado, necessitados da graça divina. Ao citar este trecho, Jesus não só reitera seu papel messiânico, como também amplia sua missão para abarcar todos os povos. Ele não se limita a restaurar a justiça terrena, propõe uma libertação que transcende os limites humanos, alcançando os corações feridos pelo pecado.

O Senhor, como Sol da Justiça, dissipa as trevas que obscurecem o coração humano, restaurando a dignidade de filhos da luz. A salvação é, assim, uma experiência transformadora. Aqueles que antes vagavam na escuridão descobrem o caminho da verdadeira Luz, que passa pela comunhão com Deus e pelo amor vicário. Essa liberdade anunciada é espiritual: libertando os homens da opressão do pecado.

A mensagem, ainda, convida à atenção para os “pobres” de hoje, especialmente aqueles que vivem às margens da sociedade e da fé. A Igreja é chamada agir como Corpo de Cristo Redentor, promovendo obras de misericórdia, justiça e evangelização. É necessário que o testemunho cristão revele o rosto compassivo do Senhor, oferecendo acolhimento e esperança aos que sofrem. Assim, o anúncio do Reino faz-se concreto, não apenas em palavras, mas em gestos que manifestam o amor redentor de Cristo.

Somos, ainda, desafiados: cada discípulo deve reconhecer sua própria pobreza diante de Deus. A verdadeira liberdade começa quando se abandona o orgulho e se aceita a dependência da graça divina. Quando há um abandono total da vontade humana na Divina Vontade. Tal atitude permite que o Espírito Santo transforme o coração endurecido pelas trevas do egoísmo, tornando-o reflexo da luz divina. Jesus é o ungido que veio para restaurar o ser humano em todas as suas dimensões. O “hoje” de Nazaré ecoa em cada tempo e lugar, pedindo uma resposta pessoal à sua mensagem. É uma Boa-Nova que convida à conversão, a um encontro pessoal com Cristo e à vivência da fé na comunidade. Ao reconhecer-se amado e libertado pelo Senhor, o discípulo torna-se portador da luz, chamado a testemunhar a salvação para os que ainda vivem nas trevas.

Assim, o Evangelho deste domingo é um convite à transformação: pela escuta da Palavra – celebrando o Domingo da Palavra de Deus –, pela prática da caridade e pela abertura à graça. O anúncio de Nosso Senhor na sinagoga de Nazaré não é apenas uma declaração messiânica, mas um chamado à adesão total ao projeto de Deus. Como filhos da luz, os cristãos são enviados a dissipar as trevas, promovendo a libertação que o próprio Cristo inaugurou. Que a força do Espírito Santo conduza a Igreja e cada fiel a viver e anunciar essa Boa-Nova de forma sempre mais fiel e autêntica.

Copyright ©2018. Todos os direitos reservados.