Da Pastoral bíblica à animação bíblica da pastoral. 50 anos do mês da Bíblia no Brasil
Por Maria Aparecida Barboza, icm
Celebramos, em setembro de 2021, os 50 anos do Mês da Bíblia. Motivo para olhar a caminhada feita, inserida no amplo contexto de passagem da pastoral bíblica para a animação bíblica da pastoral.
Ao retomar o processo da pastoral bíblica que desencadeou a animação bíblica da vida e da pastoral da Igreja no Brasil, muito nos alegra perceber que a redescoberta da Bíblia – Palavra de Deus e da vida –, bem como seu uso constante por todas as Igrejas cristãs no Brasil, tem sido um marco significativo no crescimento da experiência da fé das comunidades espalhadas pelas diversas regiões do país. A centralidade da Palavra de Deus impulsiona a vida e o dinamismo da ação evangelizadora das “comunidades eclesiais missionárias”, assim intituladas pelos bispos em sua 57ª Assembleia Geral, em maio de 2019.
Graças ao Concílio Vaticano II, que conclamou todos os pastores a um efetivo compromisso com a difusão da Bíblia, afirmando a necessidade do amplo acesso do povo de Deus ao texto bíblico (“o acesso às Sagradas Escrituras seja aberto amplamente aos fiéis” – DV 22), aos poucos a Bíblia foi entrando na vida do povo pela porta da experiência pessoal e comunitária.
Num esforço permanente na missão de formar pessoas biblicamente animadas, “a Igreja no Brasil, ciente dessa compreensão, assumiu a animação bíblica da vida e da pastoral como urgência de sua ação evangelizadora, por ver nela o caminho indispensável para encontrar a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo” (CNBB, Doc. 97, n. 35).
1. Cenário da origem do Movimento Bíblico, da pastoral bíblica e da animação bíblica da pastoral
“Vós sois testemunhas disso.” (Lc 24,48)
Anterior à pastoral bíblica e à animação bíblica da pastoral no Brasil é o chamado Movimento Bíblico. No início do século XX, os papas dirigem a atenção para as novas abordagens e perspectivas lançadas sobre a Bíblia. O papa Leão XIII cria, em 1902, a Pontifícia Comissão Bíblica, e o papa Pio X, em 1909, o Instituto Bíblico. Para a Igreja no Brasil, foi de grande importância a encíclica Divino Afflante Spiritu (1943) do papa Pio XII, encorajando e estimulando novas leituras e abordagens das Escrituras.
Um marco histórico para a Igreja no Brasil foi a realização do 1º Congresso Católico Brasileiro, em 1900, o qual decretou a promoção de nova versão da Bíblia, que tivesse larga difusão entre os fiéis. Essa tarefa foi confiada aos frades franciscanos, que, em fevereiro de 1902, publicaram o “Santo Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus, traduzido em português segundo a tradução Vulgata Latina” (RICHTMANN, 1996, p. 85).
Contudo, “a origem de um apostolado bíblico organizado se deu em 1947, quando foi oficializada a fundação da Liga de Estudos Bíblicos, por iniciativa dos professores de Sagrada Escritura, ex-alunos do Pontifício Instituto Bíblico” (TERRA, 1987, p. 43-44).
Outro fator significativo, na Igreja no Brasil, para o florescimento bíblico foi a implantação do Plano de Emergência (1960-64) e o Plano de Pastoral de Conjunto (1966-1970). Ambos marcaram a ação evangelizadora. No Plano de Emergência, a dimensão bíblica estava expressa nos textos referentes à renovação paroquial e à renovação do ministério sacerdotal, a saber:
valorizar a pregação, tornando-a viva, simples, procurando encarnar a Palavra de Deus na vida concreta da comunidade, de modo a levá-la a uma conversão, aprofundamento de vida, e promover e incentivar o Movimento Bíblico. É necessário que os paroquianos entrem em contato com a Palavra de Deus, que a conheçam, amem e vivam (CNBB, Doc. 76, 2009, n. 4).
O incentivo para o uso da Bíblia encontra sua plena confirmação no Concílio Vaticano II. Este declarou que o objeto primário do trabalho pastoral da Igreja é a integração das Sagradas Escrituras na vida diária dos cristãos e confiou ao episcopado a responsabilidade de realizar esta tarefa (TERRA, 1998, p. 85).
2. Dei Verbum e o fruto da pastoral bíblica rumo à animação bíblica da vida e da pastoral da Igreja no Brasil
“E a Palavra de Deus crescia. O número dos discípulos multiplicava.” (At 6,7)
É inegável a grande riqueza e abertura de horizontes que a Constituição Dogmática Dei Verbum trouxe para o avanço da caminhada bíblica, tanto no âmbito da exegese como no uso pastoral, catequético e litúrgico das Sagradas Escrituras. A Igreja, povo de Deus, foi convidada a devolver a Bíblia aos fiéis, favorecendo e facilitando o estudo, as traduções e o diálogo ecumênico. A Bíblia é o livro que une todos os povos, etnias e crenças numa única linguagem: a linguagem da Palavra que é amor, fraternidade e solidariedade.
Na continuidade do Concílio, encontramos as conferências da América Latina e do Caribe, que também muito contribuíram para o processo da pastoral bíblica e da animação bíblica da pastoral. A 1ª Conferência, realizada em 1955, no Rio de Janeiro, destaca a Bíblia na formação e recomenda que se intensifique o
Movimento Bíblico; que haja edições populares dos Livros Sagrados, cursos bíblicos por rádio e correspondência, Semanas Bíblicas e o Dia Nacional da Bíblia (CELAM, 1955, n. 72).
A 2ª Conferência, em Medellín (1968), destaca a Bíblia como força renovadora da ação evangelizadora. Entre as recomendações pastorais, consta que “as comunidades devem basear-se na Palavra de Deus”. Elas são os agentes de apropriação da Bíblia (Med 8; 10; 15).
Na 3ª Conferência, em Puebla (1979), a Bíblia aparece na ótica dos pobres: a temática principal é a evangelização no presente e no futuro da América Latina. Nas opções pastorais, destaca a Bíblia como fonte principal da catequese, a difusão da Bíblia, o apostolado bíblico e a leitura bíblica contextualizada (PB 981-1001).
Já a 4ª Conferência, realizada em Santo Domingo (1992), acentua a Bíblia como sementes do Verbo espalhadas nas culturas. As Sagradas Escrituras nutrem a vida dos fiéis, sendo “imprescindível que os agentes de pastoral se aprofundem incansavelmente na Palavra de Deus, vivendo-a e transmitindo-a aos demais com fidelidade” (“Discurso inaugural do Santo Padre”). Adverte para uma pastoral bíblica adequada, com critérios (SD 38).
A grande novidade para a pastoral bíblica foi a 5ª Conferência, em Aparecida (2007). Destaca a Bíblia no processo formativo do discípulo missionário. O documento recorda a prioridade das traduções na língua indígena: “é prioritário fazer traduções católicas da Bíblia e dos textos litúrgicos nos idiomas desses povos nativos” (DAp 94). Salienta o aspecto positivo da animação bíblica da pastoral na formação do povo (DAp 99a) e propõe que a pastoral bíblica seja entendida como animação bíblica da pastoral (DAp 248). Aqui está um passo decisivo para a ação evangelizadora da Igreja: conceber a Bíblia já não como uma pastoral, mas como dimensão que sustenta as demais pastorais. Há também a compreensão de que “a leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo” (DAp 249).
Outro evento merece nossa atenção: o Sínodo dos Bispos, realizado em outubro de 2008, com o tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. O Sínodo procurou acentuar a importância da Bíblia na formação do povo. Contribuiu para o avanço da caminhada bíblica na Igreja e destacou a dimensão da pastoral bíblica, a ser compreendida como animação bíblica da pastoral. A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini nos ajuda a compreender a animação bíblica da pastoral como um particular esforço pastoral em acentuar a Bíblia, Palavra de Deus, na vida e missão da Igreja. O Sínodo convida toda a Igreja a um empenho pastoral para ressaltar o ponto central da Palavra de Deus na vida eclesial, recomendando incrementar a pastoral bíblica não como justaposição com outras pastorais, mas sim como animação bíblica da pastoral (VD 73-74).
A Igreja no Brasil, além de sua ampla participação em preparação ao Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, por meio do estudo e síntese do texto Lineamenta, dedicou uma assembleia geral com o tema central: “Discípulos e servidores da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo”, com enfoque na animação bíblica de toda a pastoral (CNBB, Doc. 97, 2012). Desde então, em cada quadriênio, os bispos, em suas diretrizes para a ação evangelizadora, conferem destaque particular à animação bíblica da vida e da pastoral.
3. Passos e conquistas da Igreja no Brasil rumo à animação bíblica da vida e da pastoral
3.1. Difusão do texto bíblico
Com o terreno preparado desde 1947, mediante os primeiros passos dados pelo Movimento Bíblico, começou a delinear-se vasta difusão da Bíblia entre os fiéis.
Segundo Richtmann (1966, p. 86), uma das primeiras tarefas dos membros da Liga de Estudos Bíblicos (LEB) foi a dedicação às traduções da Bíblia. Outra iniciativa da LEB foi a Revista de Cultura Bíblica (RCB).
Para os pioneiros dos anos 1950, havia a necessidade de um texto bíblico acessível ao povo. O grande interesse do povo pela Bíblia provocou uma oferta igualmente grande de textos traduzidos diretamente do hebraico e do grego. Daí a importância de percebermos que, a partir da divulgação crescente da Bíblia da Ave Maria (1959), foram surgindo muitas outras traduções, como a Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, da Editora Paulus. Vale destacar o trabalho árduo do biblista frei João José Pedreira de Castro, ofm. Hoje encontramos Bíblias para estudos acadêmicos exegéticos, outras de cunho mais pastoral, para o uso litúrgico-catequético etc.
3.2. Semanas Bíblicas Nacionais
As Semanas Bíblicas Nacionais foram organizadas pelos exegetas brasileiros como resposta ao desafio lançado por Pio XII com sua magistral encíclica Divino Afflante Spiritu, promulgada no dia da festa de São Jerônimo, em 1943. Em 1947, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, realizava-se a 1ª Semana Bíblica Nacional (SALVADOR, 1975, p. 50-51). Ao encerrar-se o evento, foi redigida uma circular, intitulada “Resoluções da 1ª Semana Bíblica Nacional”, que continha as seguintes conclusões: instituição do Domingo da Bíblia; incentivo à publicação da literatura bíblica nacional; fundação da LEB; tradução literal da Bíblia para a língua portuguesa.
Entre as resoluções da 1ª Semana Bíblica Nacional estava a realização, em datas aproximadamente fixas (a cada dois ou três anos), de Semanas Bíblicas. Deste modo, sucederam-se, a partir de 1947, 20 Semanas Bíblicas Nacionais, promovidas pela LEB com apoio dos bispos e de outras entidades. Além das Semanas Bíblicas Nacionais, foram realizadas, na Igreja no Brasil, as Semanas Bíblicas Populares. A 1ª Semana Bíblica de caráter popular ocorreu na diocese de Natal (RN) em 1947, promovida pelo cardeal dom Eugênio Sales e organizada pelos membros da LEB, sobretudo pelo Pe. José Ferreira Neto, sdb, por intermédio do Departamento Diocesano de Defesa da Fé e da Moral (SALVADOR, 1975, p. 50-51).
3.3. Círculos bíblicos: um jeito dinâmico de evangelizar
Com o Concílio Vaticano II, a Bíblia foi ocupando cada vez maior espaço na família, nos grupos de reflexão e nas pequenas comunidades. Movida pelo desejo de crescimento na fé bíblica, a Igreja no Brasil desenvolveu toda uma prática de leitura e reflexão em torno da Bíblia que muito contribui para o sustento da fé e da caminhada das pessoas. Círculos bíblicos, grupos de reflexão, grupos de rua são alguns sinais dessa presença viva da Bíblia no meio do povo, formas criativas de tornar mais próxima a Palavra da Escritura.
Juntamente com os círculos bíblicos, as comunidades eclesiais de base (CEBs) têm desempenhado um papel muito importante de animação bíblica. Onde o povo se reúne em torno da Palavra, nascem lideranças fortes; a comunidade resolve seus problemas em conjunto e com maior facilidade; possibilita-se a experiência participativa da Igreja; surge a diversidade de serviços e ministérios, com os leigos assumindo seu protagonismo na missão evangelizadora.
3.4. Domingo da Bíblia ou Mês da Bíblia
Com a organização da LEB, desenvolveu-se um trabalho em torno de mobilização bíblica, dando origem ao Mês da Bíblia. Em 1971, 50 anos atrás, a Arquidiocese de Belo Horizonte celebrava seu cinquentenário. As Irmãs Paulinas, na pessoa da Ir. Eugênia Pandolfo, e lideranças que já trabalhavam com a animação bíblica apresentaram por escrito a dom João de Rezende Costa e ao conselho presbiteral a proposta de realizar um vasto e profundo movimento bíblico durante o mês de setembro, que atingisse todos os segmentos da arquidiocese. A proposta foi aceita e, em junho do mesmo ano, o conselho presbiteral nomeou uma equipe para coordenar e impulsionar essa mobilização bíblica. A equipe definiu, assim, os objetivos do Mês da Bíblia, a saber: infundir no povo a convicção de que a Bíblia, Palavra de Deus, é por excelência o livro que deve ser inserido na vida de cada um; fazer que as famílias sintam a necessidade de ter em casa a Bíblia e transformá-la em livro de cabeceira; por ocasião do “Mês da Bíblia”, constituir na arquidiocese de Belo Horizonte um centro bíblico.
A equipe contou com a valiosa colaboração do biblista frei Carlos Mesters, que ajudou a elaborar os folhetos para a divulgação e estudo da Bíblia, com o desejo de despertar o gosto pela Palavra de Deus e iniciar uma leitura bíblica permanente. Em 1975 a proposta se estendeu para todo o Regional Leste II e, em 1976, com o slogan “Bíblia, Deus caminhando com a gente”, o Centro Bíblico de Belo Horizonte, em parceria com as Editoras Paulus e Paulinas, lançou o folheto de círculos bíblicos Bíblia-Gente, destinado a todo o Brasil. Assim, o Mês da Bíblia se tornou um marco nacional. Até hoje, a Editora Paulus continua a publicar e distribuir o folheto Bíblia-Gente com os roteiros bíblicos do Mês da Bíblia.
3.5. Bíblia e Campanhas da Fraternidade
Um fato marcante de experiência bíblica na Igreja no Brasil é a Campanha da Fraternidade, nascida em 1964 e realizada anualmente, no período da Quaresma, como forma de apelo à conversão, em vista da preparação para a Páscoa. Trata-se de iniciativa da Igreja no campo social para chamar a atenção de toda a sociedade para situações e problemas que atingem a maioria da população ou minorias excluídas e ajudar na busca conjunta de soluções. A reflexão sobre esses temas é feita à luz da Bíblia, com um tema bíblico inspirador que auxilia os cristãos no processo de conversão e compromisso social, celebrando a vida sempre à luz das Sagradas Escrituras.
3.6. Mudança de “dimensão catequética” para “dimensão bíblico-catequética”
Outro momento importante da pastoral bíblica na Igreja no Brasil foi a mudança de nomenclatura da Linha 3 de ação pastoral, que, na 29ª Assembleia Geral de 1991, passou de dimensão catequética para dimensão bíblico-catequética, com o desejo de acentuar melhor a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.
A dimensão bíblico-catequética expressa o chamado feito a toda a Igreja para se fazer permanente ouvinte da Palavra, assimilando-a sempre mais profundamente ao confrontá-la com a vida dentro do mundo e da história.
A partir das Diretrizes de 1991 a 1994, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética tem se empenhado em desenvolver, a cada quadriênio, atividades que contemplem a unidade da Bíblia com a catequese.
A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética sentiu a necessidade de um grupo de reflexão bíblica que pudesse ajudar no serviço de animação bíblica junto às dioceses. Nasceu assim o Grebin (Grupo de Reflexão Bíblica Nacional), formado por representantes das instituições que se dedicam ao serviço da animação bíblica. É um espaço de articulação das instituições bíblicas, de intercâmbio de experiências e parceria em torno de ações comuns no campo da formação bíblica. Hoje, chama-se Grebicat (Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética).
3.7. Articulação entre a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética e as instituições da pastoral bíblica
Há um diálogo produtivo e uma caminhada conjunta entre a Comissão para a Animação Bíblico-Catequética e as instituições bíblicas, sobretudo no estudo e escolha de temas para o Mês da Bíblia. Há grande empenho em ações comuns no que se refere à formação e à produção de subsídios de animação bíblica da pastoral. As instituições que se dedicam ao serviço da Palavra e formam o Grebin tem seu foco no avanço da questão bíblica na Igreja no Brasil. São elas: Serviço de Animação Bíblica (SAB), Movimento da Boa-Nova (Mobon), Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), Movimento Bíblico Nova Jerusalém, Centro Bíblico Verbo (CBV), Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib), Centro Bíblico PAULUS.
3.8. Bíblia no diálogo ecumênico, um fruto do Vaticano II
Nestes 40 anos, o povo católico cresceu bastante na intimidade com a Bíblia. Mas uma conquista do Concílio é o diálogo ecumênico. Nossos documentos oficiais pedem insistentemente que se deixe de lado o clima de enfrentamento, de rivalidade, e se busquem caminhos de unidade. A Bíblia é muito importante nessa busca, pois pode contribuir para o encontro de todos os cristãos. Vale a pena ressaltar os empreendimentos ecumênicos lançados aqui em nosso país: as revistas especializadas para agentes de pastoral, entre as quais Estudos Bíblicos e Ribla (Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana), bem como a coleção dos comentários aos livros bíblicos, todos numa perspectiva ecumênica, lançados pelas editoras Vozes (católica) e Sinodal (luterana). A Igreja no Brasil vem incentivando a produção de textos que aproximem os cristãos das diversas denominações e aprofundem as relações fraternas. Destaques, nesse sentido, são as Campanhas da Fraternidade em nível ecumênico e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A intenção é abrir, cada vez mais, caminhos para uma conversa construtiva em prol da unidade na fé, na esperança e na caridade, tornando visível o testemunho do quanto estamos unidos no amor de Jesus. Uma boa leitura bíblica, atualizada, tem papel importante no diálogo sereno e construtivo, o que será enorme benefício para todas as Igrejas envolvidas.
3.9. Lectio Divina ou leitura orante da Bíblia
Cada vez é mais notável a leitura orante da Bíblia e da vida nos pequenos grupos, “igrejas domésticas” (LG 30; CIC 1655). Ela contribui também para maior liberdade de expressão, diálogo e comunhão com as culturas e religiões. A Palavra de Deus não é mero material de estudo: é chamado a um diálogo reverente. Nosso povo, com muita sabedoria, valoriza a oração. Com a Bíblia, bem usada, cresce na espiritualidade, em todos os sentidos. A oração centrada na Bíblia é a grande valorização do nosso texto sagrado. Há muito se vem difundindo, com regras simplificadas, a prática do antigo método da leitura orante, que já era utilizado por muitas congregações religiosas e tem um lugar especial na Tradição da Igreja. A divulgação desse método tem trazido profundidade e alegria para a oração do povo, em todas as classes sociais. Intensificar essa prática trará grandes benefícios em nível pessoal e comunitário. O método da leitura orante é ajuda valiosa para o aprendizado da vida de oração por meio da Bíblia. Tanto a 5ª Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) como a Verbum Domini acentuam a importância da leitura orante da Bíblia.
Considerações finais
Desde a Dei Verbum até a Verbum Domini, é possível perceber, na Igreja no Brasil, o esforço criativo para acentuar a Palavra de Deus em sua vida e missão evangelizadora.
Com o espírito inovador das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), o povo, cada vez mais, busca ler a Bíblia e encontrar nela uma
palavra orientadora e consoladora para a vida.
A animação bíblica da vida e da pastoral envolve toda a atividade da Igreja, no esforço de anunciar com eficácia o Reino de Deus: “é preciso, pois, que, do mesmo modo que a religião cristã, também a pregação eclesiástica seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura” (DV 21).
Contudo, faz-se necessário priorizar uma animação bíblica da vida e da pastoral capaz de formar discípulos de Jesus Cristo, servidores da Palavra. Trata-se de grande tarefa que o novo tempo nos impõe.
A Bíblia, sendo assumida pelas comunidades eclesiais missionárias como a fonte e a alma de toda pastoral, será uma das mediações privilegiadas na promoção da pastoral de conjunto, tão essencial para que a comunidade eclesial seja expressão de uma Igreja querigmática, mistagógica e missionária.
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Maria Aparecida Barboza, icm
conselheira geral da Animação Missionária na Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, mestra em Bíblia, especialista em Pedagogia Catequética, membro do Grupo de Reflexão Bíblico-Catequética (Grebicat) da CNBB. E-mail: barboza.icm@gmail.com