A Pastoral da Criança
“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho no alto das árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, devemos cuidar de nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los.” Assim a médica Zilda Arns terminou a palestra que, no dia 12 de janeiro de 2010, fazia numa igreja de Porto Príncipe – Haiti. Ela ali estava para introduzir a Pastoral da Criança naquele país. Pouco depois, um terremoto abalou o país e o teto da igreja onde ela estava desabou. Dra. Zilda foi atingida e morreu na hora.
Na véspera do dia da Criança – sem esquecer que é também o dia de Nossa Senhora Aparecida –, é oportuno lembrar que a obra dessa batalhadora catarinense continua mais viva do que nunca. Atualmente, a Pastoral da Criança presta algum tipo de assistência, em 3.821 municípios brasileiros, a cerca de um milhão e cem mil crianças de 0 a 6 anos. O trabalho é conduzido por 198 mil voluntários (88,2% mulheres e 11,8% homens).
Desde que, a pedido da CNBB, foi implantada no Brasil, em 1983, a Pastoral da Criança tem feito um trabalho que ultrapassa os limites da Igreja Católica. São atendidas crianças que necessitam de uma atenção especial, independentemente da religião praticado por seus pais. Os agentes dessa pastoral são orientados a não fazer qualquer trabalho proselitista, pois seria condenável, e indigno de um seguidor de Jesus Cristo, todo e qualquer trabalho social feito com o objetivo de arrebanhar adeptos.
A Pastoral da Criança usa uma metodologia que conta com três grandes momentos: 1º) Visitas domiciliares mensais, realizadas pelos líderes a cada família acompanhada; 2º) Dia do Peso, quando cada comunidade se reúne para pesar suas crianças; esse dia se transforma no momento de celebração da vida; 3º) Reuniões com todos os líderes de uma mesma comunidade, para avaliarem o trabalho realizado no mês anterior.
As atividades da Pastoral da Criança estão fundadas na ideia de que a solução dos problemas sociais depende da solidariedade humana, organizada e animada em rede, com objetivos definidos, e tem sua diretriz baseada na convicção de que o principal agente de transformação são as lideranças das próprias comunidades. A experiência demonstra que a solução dos problemas sociais depende da transformação do tecido social e de políticas públicas voltadas para os mais necessitados. É uma tarefa que deve ser compartilhada entre governo, empresários e sociedade civil.
Fazendo a união entre a fé e o compromisso social, a Pastoral da Criança organiza as comunidades em torno de um trabalho de promoção humana, canalizando esforços no combate à mortalidade infantil, à desnutrição e à marginalidade social. Atua eficazmente na educação para uma cultura de paz e na melhoria da qualidade de vida das famílias acompanhadas. Nas comunidades atendidas coloca em prática um conjunto de ações que vão das que são voltadas para a sobrevivência e desenvolvimento integral da criança, às que buscam a melhoria da qualidade de vida das famílias carentes, tanto no plano físico e material como no espiritual. Dessa maneira, procura gerar igualdade de oportunidades, justiça e paz.
O resultado do trabalho da Pastoral da Criança é facilmente constatado: a saúde das crianças brasileiras, em regiões onde essa pastoral atua, melhorou consideravelmente. Por isso, cabe-nos recordar e destacar a grande herança deixada pela Dra. Zilda Arns. Em nome de todas as crianças que já foram beneficiadas por sua obra, e das que continuam a ser atendidas, cumpre-nos dizer-lhe: “Obrigado, Dra. Zilda! Muito obrigado!”