A família e seus desafios
“A alegria do amor” que caracteriza a família, segundo o Papa Francisco, em sua recente Exortação Apostólica “sobre o amor na família”, não existe de maneira plena e não pode ser idealizado. As famílias, como a Sagrada Família de Nazaré, enfrentam, hoje, muitos desafios. “Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia a dia feito de fadigas e pesadelos. […] Como Maria, as famílias são exortadas e viver, com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus.” (Amoris Laetitia, 30).
O primeiro desafio que as famílias enfrentam, segundo o Papa, é “o crescente perigo representado por um individualismo exagerado que desvirtua os laços familiares e acaba por considerar cada componente da família como uma ilha”. (AL 33). O individualismo desafia a base familiar, que se constrói como comunhão de pessoas, que aprendem no cotidiano a conviver e se amar. Constata-se o crescente número de pessoas que não querem partilhar a vida com outros e preferem viver sozinhas. Assim, ao invés do lar ser um lugar do aconchego, a família pode se transformar “em um lugar de passagem” (AL 34), que a pessoa vai quando lhe parecer conveniente.
Esta lógica individualista não promove a alegria do convívio e não educa para o amor e a doação de si (cf. AL 39). A “cultura do provisório” invade também as relações familiares. Com rapidez troca-se de uma relação afetiva para outra. Tudo é medido a partir de si mesmo, dos gostos e desejos pessoais. “Transpõe-se para as relações afetivas o que acontece com os objetos e o meio ambiente: tudo é descartável, cada um usa e joga fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve; depois, adeus.” (AL 39). Neste contexto, torna-se difícil o amor com as características da doação e da gratuidade.
Dentre outros tantos desafios apresentados pelo Santo Padre estão: tendências culturais que apresentam uma afetividade sem qualquer limite, criando pessoas imaturas; o enfraquecimento da fé e da prática religiosa, que deixa as famílias sem apoio em suas dificuldades; a falta de casa para morar e formalizar uma relação; filhos nascidos fora do matrimônio ou que crescem com um único progenitor; famílias que são forçadas a migrar; famílias que vivem na miséria; a toxicodependência, que faz sofrer muitas famílias (cf. AL 41-51). Outro desafio, que ataca diretamente a família, é a chamada “ideologia do gênero”, que “nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher” (AL 56), esvaziando a base antropológica da família.
Porém, “como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano”. (AL 35). Apresentar o matrimônio de tal modo que seja “um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo em que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adultera”. (AL 38). O Papa sugere que o matrimônio seja apresentado “mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira”. (AL 37). Nossas comunidades e paróquias devem oferecer “espaços de apoio e aconselhamento sobre questões relacionadas com o crescimento do amor, a superação dos conflitos e a educação dos filhos”. (AL 38).