A Bíblia, uma carta de amor de Deus para nós
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Chegados mais uma vez ao mês de setembro, o costume da Igreja no Brasil nos propõe recordarmos a importância e o valor da Bíblia para nossa vida de fé. Poderia parecer uma repetição desnecessária – mas, como nos lembra o Papa Francisco, a Bíblia inteira é como uma grande “carta de amor” que Deus mandou para a humanidade (Homilia do Domingo da Palavra de Deus, 24/01/2021). Relembremos, então, com gratidão, alguns motivos pelos quais seus livros são para nós como “cartas de amor vindas de Deus”.
Normalmente, costuma-se chamar a atenção ao conteúdo amoroso dos textos bíblicos – e aqui são tantas as passagens que poderíamos citar: “Não tenhas medo, pois eu te resgatei e te chamei pelo nome; tu és meu!” (Is 43,1); “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos, e no seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo” (Ef 1,3-5), entre tantas outras…
Mas também a própria forma com que fala conosco nas Escrituras, usando línguas humanas como o hebraico, o grego ou o português, já é uma grande mostra de seu amor. Afinal de contas, Deus, por sua própria natureza, é eterno e espiritual – e não tem necessidade de ir dizendo as coisas com os sons que formam nossas palavras, uma sílaba depois da outra. Por isso mesmo é que o Concílio Vaticano II, citando São João Crisóstomo, louva a Deus pela admirável condescendência e inefável benignidade com que acomodou (synkatábasis) seu discurso à nossa linguagem, assim como Jesus Cristo, a Palavra eterna de Deus, se acomodara à nossa natureza humana (Dei Verbum, nº 13).
Essa dupla composição da escritura, como Palavra de Deus expressa com palavras humanas, se explica pelo fato de que a Bíblia, em certo sentido, tem dois autores: Deus é o autor da Bíblia, mas ao mesmo tempo Ele escolheu alguns homens para escrever os livros sagrados, como verdadeiros autores, que usassem suas próprias faculdades e capacidades (Idem, no 11). Aqui também se manifesta o mistério da Providência: em sua infinita sabedoria, Deus é capaz de usar as ações livres de suas criaturas para cumprir seus desígnios amorosos, inspirando os autores sagrados a colocarem por escrito as verdades salvíficas que Ele nos queria comunicar.
E assim como Jesus Cristo é a chave para desvelarmos o sentido de toda a história da salvação, Ele é também o marco que dá sentido e unidade a toda a Escritura. Como nos lembra Santo Agostinho, “a Palavra de Deus que se desenvolve em todas as Escrituras é uma só, e um só é o Verbo que Se faz ouvir na boca de todos os escritores sagrados” (Catecismo, nº102).
Quando, então, alguma passagem bíblica nos parecer difícil de entender, lembremos o esforço que Deus faz para “falar nossa língua”, e da bondade com que Ele nos deixou o Espírito Santo e a Igreja, para nos abrir o sentido e nos ajudar a enxergar, por detrás da multiplicidade de suas palavras, a Palavra.