Apresentado o Documento da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe
O Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (Celam), apresentou na manhã da segunda-feira, 31, em Roma, o documento “Para uma Igreja sinodal em saída para as periferias – Reflexões e propostas pastorais da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe”, evento continental ocorrido realizado na Cidade do México em novembro de 2021.
O texto, publicado em seis línguas, foi apresentado ao Papa Francisco pela presidência do Celam na manhã da segunda-feira. O documento é dividido três partes: “Os sinais dos tempos que desafiam e alentam”; “Uma Igreja sinodal e missionária a serviço da vida plena”; e “Derramamento criativo em novos caminhos a percorrer”.
Como afirma o texto, o desejo é “oferecer uma contribuição significativa à reflexão e ao caminho das comunidades do nosso continente, com a certeza de que ‘todos somos discípulos missionários em saída’”. E para isso, “partindo das tradições e culturas do continente para traduzir o único Evangelho de Cristo no estilo latino-americano e caribenho, em uma sinfonia onde cada voz, cada registro, cada tonalidade enriquece a experiência de ser um missionário-discípulo”.
Participaram da Coletiva de imprensa, realizada na sede da Rádio Vaticano, Dom Miguel Cabrejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo (Perú) e presidente do organismo eclesial; o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente; o Cardeal Dom Leopoldo José Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua, na Nicarágua, e 2º Vice-Presidente; Dom Jorge Eduardo Lozano, Arcebispo de San Juan de Cuyo (Argentina) e Secretário-Geral; e o teólogo italiano Gianni La Bella.
LABORATÓRIO DE SINODALIDADE
Dom Miguel Cabrejos enfatizou que a Igreja na América Latina e Caribe viveu “um laboratório prático de sinodalidade”, de nodo que, progressivamente, “não será possível evitar a participação do Povo de Deus nas várias decisões da Igreja”, que nas palavras do presidente do Celam, “favorece a corresponsabilidade, mas, ao mesmo tempo, põe desafios”.
Entre os desafios, o Bispo peruano mencionou agir sempre a partir da misericórdia, a coerência entre discurso e prática, leitura adequada dos sinais dos tempos, escuta, diálogo e discernimento como processo, comunicação mais empática, habitando o “continente digital”, acolhendo a diversidade, integrando a mulher nos espaços de decisão e ver sempre no próximo a imagem de Deus.
Dom Miguel destacou, ainda, os desafios que afetam o clero e a vida religiosa, em relação à sua formação em um mundo plural, seu modo de vida, mais simples, austero e místico, trabalhando na sinodalidade, promovendo e acompanhando os leigos. Estes, salientou, são chamados a caminhar juntos, avançar numa formação sólida, numa práxis coerente, e assumir a Doutrina Social da Igreja.
O Presidente do Celam reforçou que a Igreja “deve construir pontes, derrubar muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar no perdão e na reconciliação, no sentido de justiça, no repúdio à violência e na coragem da paz”.
TRANSBORDAR E ESCUTAR
Para Gianni La Bella, a Assembleia Eclesial foi “uma verdadeira e feliz experiência de sinodalidade, em escuta mútua e discernimento comunitário, sugerido pelo Espírito”. Ele estabeleceu uma ponte entre a Assembleia Epecial do Sínodo dos Bispos para Pan-Amazônia (2019) e o caminho em vida a assembleia do Sínodo sobre a sinodalidade (2021-2024), experimentando concretamente uma nova abordagem conceitual para a “eclesiologia de comunhão”.
O teólogo italiano recordou as duas palavras em que o Papa insistiu em relação à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe: transbordar, para “superar as divisões e encontrar soluções criativas e inovadoras”, e escutar Deus e os gritos do povo. A partir daí foi mostrando a importância “dos sinais dos tempos” e como surgiram os desafios que nasceram da Assembleia, que busca “oferecer uma série de sugestões práticas para reler e atualizar o conteúdo e o espírito daquela Conferência de Aparecida”
À LUZ DE APARECIDA
O Cardeal Scherer recordou a Assembleia Geral de Celam realizada em Tegucigalpa em 2019, na qual foi decidido apresentar ao Papa para que fosse convocada uma VI Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho. O Pontífice, no entanto, considerou melhor voltar ao Documento de Aparecida e aconselhou outro tipo de iniciativa mantendo esse documento como referência, que deu origem à Assembleia Eclesial, com a participação de todos os membros do Povo de Deus.
Dom Odilo sublinhou, ainda, as três recomendações de Francisco na época: avaliar os frutos de Aparecida, analisar as lacunas e enxergar os novos desafios. O Arcebispo de São Paulo insistiu que, durante a Assembleia Eclesial, o desenvolvimento das reflexões não se fixou tanto em Aparecida, mas nos novos desafios e problemas não resolvidos desde então. O 1º Vice-Presidente do Celam acrescentou que esse foi um evento novo, diversificado, único, em termos de dimensões e participação, que despertou grande interesse em outros continentes, “com uma metodologia sinodal muito clara, algo nascido em Aparecida e promovido pelo Papa Francisco nos últimos anos”.
TRANSBORDAMENTO EVANGELIZADOR
O Cardeal Leopoldo Brenes também enfatizou a novidade da Assembleia Eclesial, algo “que fez os bispos latino-americanos se sentirem felizes e orgulhosos de pertencer a esta Igreja”, em saída, em missão permanente. O 2º Vice-Presidente do Celam destacou o compromisso do Santo Padre em celebrar um processo e não um evento, e em dívida com Aparecida. Da mesma forma, reafirmou a riqueza das contribuições de milhares de pessoas, “que nos deram o que estamos apresentando hoje, como reflexões e propostas, como algo que vem revigorar e dar um novo impulso a todo o nosso trabalho pastoral”.
Nesse sentido, o Arcebispo de Manágua pediu aos meios de comunicação que ajudem este documento a chegar às pessoas simples através deles, “um documento que traz o que faltava em Aparecida, com o qual estamos traçando diretrizes para outros continentes ”.
PROPOSTAS PASTORAIS E LINHAS DE AÇÃO
“Estamos diante de um texto que recolhe os quatro sonhos do Papa Francisco na [exortação apostólica] Querida Amazonia”, disse Dom Jorge Eduardo Lozano. O Secretário-geral do Celam salientou serem oferecidas seis linhas que pretendem abranger as várias dimensões da ação pastoral com vários desafios resultantes do trabalho de todo o processo vivido, recolhidos pela equipe de reflexão teológica.
Em seguida, o Bispo argentino chamou todos a empreender um processo de apropriação para que este texto possa entrar gradualmente nas comunidades. Ele também ressaltou não se trata de um documento do magistério episcopal da América Latina, nem a reflexão de um grupo de amigos ou a conclusão de um congresso, tampouco a reflexão de uma equipe de especialistas no campo acadêmico. “Estamos diante de um documento, que recolhe o reflexo do Povo de Deus composto pelas várias vocações e assistido pelo Espírito Santo. Não é fruto de uma iniciativa particular, mas da convocação do Santo Padre, que pode renovar-nos no impulso evangelizador e missionário”, concluiu.
Fonte: ADN Celam