Onde estão nossas crianças?
Depois, Jesus tomou uma criança, colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse- lhes: “Aquele que receber uma destas crianças, em meu nome, a mim recebe” (Mt. 18,5). Como naquele tempo, também hoje, esta cena, provocada pela disputa entre os discípulos, continua a representar uma enorme provocação. Aos discípulos que discutem uns com os outros, Jesus afirma que não são os adultos mas sim as crianças que são os primeiros candidatos ao Reino de Deus.
“As crianças são um presente à Igreja. Hoje, da mesma forma que naquele tempo na Galiléia, o Senhor da Igreja coloca-as bem no meio da Igreja, como o modelo mais acabado do discípulo. A Igreja que deixa de acolher incondicionalmente as crianças em sua comunidade não apenas retira-lhes aquilo a que elas têm direito, mas o prejuízo a que se expõe é bem maior”, diz o Conselho Britânico das Igrejas.
Fazer com que as crianças conheçam a experiência da acolhida (Mc. 10, 13-16 ) é um tema que escapa à esfera do meramente infantil. Trata-se de uma mudança radical de ponto de vista e de perspectiva. Será que em nossa Igreja a situação é tal que as crianças possam, efetivamente, sentir-se bem acolhidas? Ou será que, pelo contrário, muitas vezes elas são obrigadas a verificar que não existe um lugar previsto para elas ou, se existe, ele não passa de um lugar marginal? E que elas são vistas como incômodas, perturbadoras do sossego?
Podemos afirmar que um dos paradoxos da história moderna consiste no “adiamento” da acolhida das crianças na Igreja, negando a elas o direito à Eucaristia, exatamente no momento em que elas se tornam “protagonistas” na utilização das últimas invenções tecnológicas. Crianças de seis, sete anos, estão ensinando a seus avós a manusear o celular. E, no entanto, não estão preparadas para receber Jesus na Eucaristia, porque, segundo alguns, não sabem distinguir a hóstia consagrada de um pão comum?
Não se encontraria aqui um desafio especial para uma Igreja que tem por missão assumir e transmitir a alegre mensagem da incondicional aceitação e acolhida das crianças ? Para isto é necessário que também dentro da Igreja se leve a sério o fato de as crianças serem sujeitos plenos, inclusive da Fé – assim como Jesus pôs em prática em sua convivência com elas.
O Catecismo da Igreja Católica, publicado em 12 de outubro de 2012, é referência fundamental para a Catequese em todas as suas etapas. Precioso dom que João Paulo II fez à Igreja, ele é um referencial seguro para a formação e o aprofundamento da fé em nossos dias .
Infelizmente, o Catecismo que deveria ser um “livro de cabeceira” – como desejava o Papa – hoje se transformou em “livro de prateleira”. Por que ? Por vários motivos: primeiro, pela extensão do texto, que fez dele um “ livro grosso”, com mais de 753 páginas e, consequentemente, caro. As outras edições o Youcat (Catecismo para jovens) e o Compêndio publicado pela CNBB, igualmente caros. Por outro lado, a resistência de alguns, classificando o Catecismo de perguntas e respostas de “decoreba”.
O propósito do Catecismo é evangelizador e, para isso, se faz necessário realizar adaptações da exposição e dos métodos catequéticos exigidos pelas diferenças de culturas, de idades, de situações sociais e eclesiais daqueles a quem a Catequese é dirigida.
E como anda a Catequese em nossas paróquias? Na realidade, na maioria das paróquias, o que se faz é algo superficial, para cumprir agenda. Às vezes nem é um “cursinho”, mas alguns encontros em que alguém da comunidade ensina as orações e passa conceitos moralistas, exagerando na dimensão do pecado.
A Catequese se transforma numa aula, sem um texto de referência, funcionando segundo a “inspiração” do catequista no momento. A publicação de um Pequeno Catecismo da Igreja Católica, que seja pequeno no tamanho e no preço, por parte das Edições CNBB, seria um grande contributo para as Paróquias e Dioceses do Brasil.
+ Dom Paulo Sérgio Machado