A morte numa perspectiva Cristã
Por Padre Robson Caramano
A morte numa perspectiva Cristã
Há tempos a morte se coloca como uma grande questão para o ser humano. Pela fé cristã compreendemos que “Deus chamou e chama o homem para que ele, com sua natureza inteira, dê sua adesão a Deus na comunhão perpétua da incorruptível vida divina” (Revista de Liturgia, nº 23. pg 2. 1977). Assim, não é parte do homem que morre, mas sim ele todo quem faz essa passagem.
Numa perspectiva cristã a morte se designa como “uma nova etapa da vida”. Para todo cristão “no batismo, fomos sepultados com Cristo para vivermos na fé certos de que com Cristo Senhor haveremos de ressuscitar, passando para o reino de paz e felicidade na companhia dos santos.” (Revista de Liturgia, nº 23.pg 3. 1977) Nesse sentido, o verbo morrer não tem uma conotação de fim, mas sim um novo começo. No qual, pela fé, temos a esperança de que os que morrem alcançam a verdadeira vida junto de Deus.
Como nos diz Rubem Alves: “A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver” (ALVES, Rubens. O Médico. pg. 67.1933). Também, numa perspectiva cristã, a morte é um repensar a vida, e um repensar sempre. Na medida em que cada ser humano se depara com uma realidade de morte ele faz a experiência de estar em comunhão com a natureza criada (LIBÂNIO, João B; BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia Cristã. pg. 149) Enquanto criatura, vê-se no limite, tão somente nas mãos do Criador. É bem como lemos nos textos de João Libânio e Maria Clara Bingemer:
“A morte é o atestado de impossibilidade de prolongação dessa dinâmica de vida. Revela a fragilidade, a passividade, a impotência, o fracasso do homem para manter a vida. O decreto é universal: todos devem morrer. Não é um decreto que somente se manifesta verdadeiro no instante médico ou metafísico da morte. Atravessa toda a vida. Pois essa está penetrada pela dupla e oposta dinâmica: conservação e dissolução.” (LIBÂNIO, João B; BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia Cristã. pg . 151)
Por que rezar pelos mortos – Celebrar Finados
Após essa compreensão da morte, numa perspectiva cristã, podemos nos colocar diante desta pergunta: por que rezar pelos mortos? Tão logo se vê que não se morre, mas passa-se, como já visto, para uma nova etapa da vida. Tal maneira de pensar nos convida a olhar a morte a partir da Ressurreição.
Este convite se expressa na vida dos cristãos através da celebração eucarística momento no qual a Igreja se une à família enlutada e participa de sua aflição. Na celebração eucarística encontramos a expressão da fé e da Ressurreição que nos conduz a esperança! Que, como diz Leonardo Boff, não apenas espera, mas sabe o que espera: “a total realização na eternidade daquilo que de verdadeiro e de bom vivencia no tempo” (BOFF, Leonardo. Vida para além da morte.pg. 138).
Nesta esteira surge a importância de celebrarmos um dia especial dedicado aos fiéis defuntos (finados). É a oportunidade de unidos aos nossos irmãos nos consolarmos na fé e rezarmos juntos pelos nossos entes queridos. É inspirador olharmos para o espírito conciliar e nos depararmos com a frase “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”(Compêndio Vaticano II. Constituição Pastoral Gaudium et spes. pg. 143) vemos que pela celebração eucarística, pela celebração dedicado aos fiéis defuntos, cada ser humano tem a oportunidade de compartilhar sua dor com a comunidade reunida, mas não só, uma vez que compreende o sentido da morte e daquilo que num primeiro momento parece perda, ele também se alegra com a Igreja na certeza da esperança que professa ao crer e aderir ao Cristo vivo e Ressuscitado.
É com esse espírito, certo da Ressurreição e cheio de Esperança, que queremos vivenciar este dia dedicado aos nossos irmãos e irmãs que fizeram sua páscoa, sua passagem, para esta vida junto de Deus. Que na mais bela espiritualidade cristã se traduz num encontro de amor de Deus com a pessoa por ele amada expresso no 2 capítulo do Cântico dos Cânticos: Vem formosa e bela, vem ao meu jardim! O inverno (o tempo da tristeza, do frio, da arides) já passou, a chuva cessou. E as vinhas em flor exalam seu perfume! É tempo de florir (Cf. Cântico dos Cânticos 2, 10-12).