Solenidade de São Pedro e São Paulo
A Igreja celebra hoje a solenidade de São Pedro e São Paulo, Apóstolos e Mártires, que estão na origem da nossa Igreja. A Liturgia celebra juntos São Pedro, o chefe da Igreja, e São Paulo, o Apóstolo dos gentios. No entanto, popularmente, nosso povo festeja hoje, principalmente, São Pedro. São Pedro, Santo Antônio e São João Batista são os três santos festejados pelo Brasil afora com as tradicionais festas populares de Missas, rezas, procissões e arraias com fogueiras, rojões, danças e comidas típicas dos tempos da Colônia. Quem não gosta destas festas juninas e julinas de nossos santos mais populares que expressam a nossa tradicional identidade cristã? As meninas se vestem lindamente de “Maria Chiquinha” e os meninos adequadamente de “Chico Bento”. E vem lá pipoca, amendoim, broa, batata doce, quentão, chocolate quente. E solta rojão, pula fogueira e roda quadrilha e música. Viva Santo Antônio! Viva São João! Viva São Pedro! Os Evangélicos fingem que não se lembram dos bons tempos e os Crentes nem dão bola, juntam-se louvando a Maria.
No Evangelho da Missa – Mt 16,13-19 – Jesus pergunta aos discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Simão respondeu:: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.
Jesus não trocou o nome do humilde pescador, Simão, por “boniteza” como diz o povo simples, mas para dar significado à sua “vocação e missão” de ser pedra, rocha, sobre a qual Ele construirá a sua Igreja, tão solidamente quanto necessário para que nenhum poder, nem mesmo diabólico, a pudesse vencer, e firmará a unidade e a comunhão na mesma fé da comunidade dos cristãos, pela outorga a Pedro do poder das chaves do Reino dos Céus. Essa é a fé da Igreja Católica, que vem desde os Apóstolos, a fé no “Primado de Pedro” como uma instituição divina. Do Senhor, Pedro recebeu o poder superior de ligar e desligar, isto é, de acolher e excluir, de absolver e condenar referentemente não só às pessoas quanto às doutrinas e aos costumes. Jesus, “pedra angular” da Igreja (At 4,11), constituiu Pedro como “pedra fundamental” da sua Igreja. Concedendo-lhe as chaves do Reino dos Céus, o fez “Cabeça da Igreja”. Pedro foi compreendendo o significado e o alcance desta “investidura” somente aos poucos, convivendo cotidianamente com o Senhor na intimidade de uma experiência às vezes dolorosa por causa de suas traições, mas seguida de profundo arrependimento desde quando o olhar misericordioso do Senhor o tocou no fundo do seu coração e ele chorou amargamente. Não obstante as suas fraquezas, o Mestre não retirou dele esta sua escolha e nomeação. Contudo, a preparação de Pedro se completou quando o Senhor ressuscitado o confirmou: “Pedro, tu me amas mais do que estes?”. Então, “Apascenta os meus cordeiros… Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-16). Pedro demonstrou a sua plena comunhão com Cristo por meio da sua confiança absoluta nEle, do seu dedicado ministério ao serviço dos irmãos, e do seu martírio na cruz, sinal maior do grande amor que tinha por Ele.
Nós, cristãos católicos, somos muito felizes, porque temos como “pedra angular” de nossa Igreja, Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre, e “pedra fundamental”, Pedro e seus sucessores. Assim sendo, na nossa santa Igreja, por vontade divina, o ministério apostólico foi exercido a começar pelos doze, depois também por Paulo, Timóteo e por aqueles que se juntaram a eles ou os sucederam através dos tempos. Estes foram os ministros ordenados, os bispos com os presbíteros e diáconos, que chegarem aos nossos dias, como os que temos testemunhando Jesus Cristo “até aos extremos da terra” (At 1,8). De igual modo o ministério “petrino”, isto é, que vem de Pedro, é desempenhado pelos sucessores de Pedro pelos séculos afora, ora chamados “Papas”, nome que as primeiras comunidades cristãs adotaram do grego e do latim, por uma questão cultural, para atribuí-lo aos que sucederam a Pedro como o nosso amado Papa Francisco.
Assim nos ensina o nosso Catecismo: “O Papa é o sucessor do Apóstolo São Pedro, bispo de Roma. Como São Pedro fora o primeiro entre os Apóstolos, o Papa, seu sucessor, tem a presidência do colégio dos bispos. Sendo o Vigário de Cristo (que está no seu lugar), o Papa é o pastor supremo da Igreja” (n. 141). Roma foi a sede da Igreja que Pedro dirigiu e o lugar do seu martírio, como também do Apóstolo Paulo; tornou-se a sede temporal da Igreja Católica. Seu Bispo tem sido o Papa, cabeça da Igreja, como Francisco o é hoje. O Concílio Vaticano II afirma que “O Romano Pontífice, em virtude de seu cargo de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, tem poder pleno, supremo e universal sobre a Igreja” (Lumen Gentium, 22). Afirma também que ele “é o princípio e o fundamento perpétuo e visível da unidade, quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis” (Idem, 23).
São Pedro e São Paulo representam as duas dimensões do apostolado, diferentes, mas complementares, que estão na base da edificação da Igreja. Falando simplificadamente, em Pedro aparece o carisma da “responsabilidade institucional” e em Paulo, o da “criatividade missionária”. Por isso, ambos são chamados como “colunas da Igreja”.
Hoje, a Igreja celebra o “dia do Papa”. Supliquemos à Trindade Santa pelo nosso amado Papa Francisco, por suas necessidades e intenções pessoais, por seu ministério apostólico de Vigário de Cristo de nossa Santa Igreja Católica, Apostólica e Romana, e por seu serviço em favor da paz no mundo, da justiça entre as nações e os povos, e do bem de toda a humanidade.
Dom Caetano Ferrari – Bispo de Bauru