COMENTÁRIO AO EVANGELHO – As bem-aventuranças, caminho para a vida feliz
Por Dom Luiz Carlos Dias – Bispo da Diocese de São Carlos.
Quarto Domingo do Tempo Comum – Ano A
As bem-aventuranças, caminho para a vida feliz
A Igreja começa a ouvir neste final de semana trechos do Sermão da Montanha, do Evangelho de Mateus (Mt 5-7). Trata-se de um caminho autêntico e completo para os discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em todos os tempos, que na Igreja Primitiva integrava o rol das catequeses batismais.
No Evangelho proclamado, Mateus apresenta Jesus na montanha, como o novo Moisés, concedendo um dom sublime àqueles ouvintes que representam toda humanidade, as bem-aventuranças. E, é necessário ouvir com atenção a Palavra do Filho de Deus, pois as bem-aventuranças são frutos de sua observação e meditação acerca do que torna uma pessoa realmente feliz para o seu anúncio do Reino de Deus (Mt 4,17).
Sem uma resposta adequada a esse anseio acalentado por homens e mulheres, qualquer proposta de vida será inadequada e rejeitada. Entretanto, o Senhor subverte expectativas daquela época e da atual, quanto ao que proporciona este bem tão almejado, ao proclamar “felizes os pobres, os mansos, os aflitos, os que lutam pela justiça, os misericordiosos, os puros de coração, assim como os promotores da paz e os perseguidos”.
Proclamando as bem-aventuranças, Jesus também expressa a predileção de Deus pelos sofredores, e se fazendo próximo, mostra-lhes que o seu sofrer não é inútil, pois contribui para que o mal seja vencido com o bem. Eis a grande recompensa, motivo da felicidade por excelência, a qual Mateus expressa em distintas realidades: herdar a terra, consolo, saciedade, misericórdia, ver a Deus, ser chamado filho de Deus e o Reino dos Céus.
A felicidade proclamada pelas bem-aventuranças conjuga sofrer e recompensa, como no mistério pascal de Jesus Cristo, e convergem tanto para a entrega por amor do Crucificado, como para a recompensa obtida pelo Ressuscitado. Nesse sentido, a oitava bem-aventurança proclama “bem-aventurados os perseguidos por causa de Jesus” (Mt 5,11), em estreita comunhão com o seu destino, a cruz. O profeta Sofonias profetizou que haveria quem trilhasse essa via: “Deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres” (Sf 3,12). A pobreza é a porta de acesso às bem-aventuranças (Mt 5,3).
Entretanto, são esses “humildes e pobres” os mais necessários dentre os homens, pois os bens espirituais que angariam por meio das bem-aventuranças como a solidariedade, a fraternidade e a justiça, mantem em pé a humanidade em meio aos males que atingem as sociedades. E este benefício nem é levado em conta nas avaliações e estudos. São Paulo afirma na segunda leitura, algo que encerra um mistério extraordinário, e se aplica aos bem-aventurados: “Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante” (ICor 1,28).
As bem-aventuranças se constituem em um caminho efetivo para a superação de males e se alcançar a felicidade. Esta proposta cristã é empenhativa e implica a todos, pois não há a possibilidade de ser feliz enquanto o outro sofre com determinados males.
Que as comunidades eclesiais missionárias sejam a casa das bem-aventuranças, como as do evangelista Mateus. Nelas, os discípulos e discípulas missionários aprofundem o senso de viverem a partir de Jesus, e venham a testemunhar as bem-aventuranças para uma existência feliz, desejo de Deus e bela expressão do Reino de Deus.
Dom Luiz Carlos Dias
Bispo da Diocese de São Carlos