Visitação: o serviço alegre de Maria
Artigo do Ir. Gilberto Teixeira da Cunha
Dentre os poucos episódios sobre a vida de Maria que encontramos na Sagrada Escritura está a Visitação a Isabel. De um episódio aparentemente simples e sem muita transcendência, podemos conhecer muito sobre Maria. Neste episódio podemos perceber como Ela está sempre disposta a servir com alegria e prontidão a todos, especialmente os que mais precisam. Sobre o serviço alegre de Maria gostaria de refletir um pouco.
Pouco depois de ter recebido a Boa Nova de que seria a Mãe do Salvador, cheia do Espírito Santo, nossa Mãe deve ter ficado meditando, recordando as maravilhosas palavras do Anjo Gabriel. E, entre elas, estas ressoam como um convite: “Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice” (Lc 1, 36) .
Maria, dócil ao anúncio, decide ir ver sua prima Isabel. Já desde esse momento se evidencia como o sutil convite do anjo se transforma, para Santa Maria, em um convite cordial para compartilhar o dom que recebeu.
E a escritura resume no Evangelho de São Lucas o que houve a seguir. Vejamos os finos detalhes que o bom médico Lucas, nos oferece para entendermos como o coração de nossa Mãe transborda de amor neste singelo episódio da Visitação.
“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas…” (Lc 1,39)
Maria não fica de braços cruzados, pensando em si mesma, no que lhe havia dito o anjo Gabriel e inquietando-se além da conta por assuntos que não podia resolver por si mesma. Levantou-se. Por que dizer que se levantou? São João Paulo II em uma de suas catequeses explica que o verbo grego que São Lucas utiliza nesta passagem indica uma força espiritual intensa que impulsiona Maria a visitar a Isabel. É a força interior do amor, o desejo de compartilhar a alegria da Boa Nova e a vontade de servir que faz com que Maria vá imediatamente à casa de Isabel.
Por isso se afirma depois que “foi às pressas”. Provavelmente aproveitou alguma caravana que se dirigia para Ain Karin, que é onde parece ter vivido Santa Isabel, sua prima. Teria que percorrer cerca de cento e cinquenta quilômetros, e uma mulher não costumava fazer isso sozinha. Mas nossa Mãe recebeu o Espírito Santo e tem o ânimo aceso, está cheia do fogo do Amor. E quando esse Amor se derrama em nosso coração, parece que ardemos de desejo de levar adiante o projeto que concebemos. Não podemos perder tempo. Sejamos prontos no cumprimento do Plano divino.
Ir à região montanhosa
Foi “às montanhas”. Quando servimos, vamos com prontidão às montanhas? Deixamos que nosso coração responda a esse desejo interior de entregar-se até as últimas consequências? Ir às montanhas é caminhar sem temer os perigos que nosso serviço de caridade vai implicar.
Não é a imprudência de quem se atira de um precipício sem medir o perigo. É a audácia de quem sabe que se não fizermos o que devemos, ninguém vai nos substituir. É a valentia de ir por onde talvez possa me incomodar mais, mas que ao mesmo tempo me faz ir por onde o outro mais necessita. Sejamos valentes. Sejamos audazes. Caminhemos pela região montanhosa.
Terminado o longo e difícil percurso, Maria chega à casa de Zacarias. E não espera ser atendida nem que lhe ofereçam descanso depois deste longo caminho. Justamente o contrário. São Lucas nos fala que “entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel” (Lc 1,40). Ela sai logo ao encontro e se coloca-se a serviço.
A alegria no serviço
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre” (Lc 1, 41). Quanta alegria transborda de nossa Mãe! A saudação chega ao coração de Isabel e penetra seu interior, comovendo seu filho. Eles foram os primeiros a escutar a Boa Nova.
E São João Batista salta de alegria, como o profeta Davi dançava e saltava diante da presença de Deus. Maria serve a sua prima anunciando-lhe o Evangelho e mostrando o que tem em seu interior.
Assim também deve ser nosso serviço no apostolado, na evangelização, no anúncio da Boa Nova. Santa Maria nos convida a sermos anunciadores da Boa Nova cheios de alegria, de entusiasmo, de ardor, abertos à presença do Espírito Santo. O serviço evangelizador de nossa Mãe se complementa com o serviço doméstico: “permaneceu com ela mais ou menos três meses” (Lc 1, 56).
Sem se importar com todo o incômodo que poderia ter, dedica-se a atender sua prima com todo carinho. Isto nos faz recordar o gesto do bom samaritano que atende ao homem caído até que se recupere totalmente. Também ao pastor que se preocupa com zelo amoroso por todas as suas ovelhas.