Jesus Educador na relação com a Campanha da Fraternidade 2022
Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
A parte do ‘discernir’ do texto-base da Campanha da Fraternidade 2002, da CNBB, que fala sobre a Educação, focaliza um de seus pontos fundamentais Jesus Cristo como Mestre e Educador. Jesus foi o educador verdadeiro que possibilitou vida nova para o seu povo e para os seus discípulos e discípulas de todos os tempos. Ele transmitiu a verdade divina na humanidade. Além dos milagres, expulsões de demônios e a ressurreição de mortos, Jesus ensinava com palavras e ações na missão evangelizadora, revelando a face do Pai e em unidade com o Espírito Santo. É muito importante fazer uma análise a respeito deste ponto que ilumina no momento atual, os educadores e as educadoras, a seguirem o ensino como o Senhor o foi no tempo dele. O Brasil necessita de uma educação humanizadora, solidária, que leve a todos para a verdade, a compaixão, à libertação.
Ele ensinava com sabedoria e amor
Os evangelhos colocam o Senhor Jesus na dimensão do ensino aos seus discípulos e também ao povo em geral. O evangelho de São João explicitou este ponto da educação quando ele veio do monte das Oliveiras e foi ao Templo, e ali se sentou para ensinar ao público em geral. No entanto, em seguida os fariseus e os mestres da Lei trouxeram uma mulher surpreendida, em flagrante adultério. Como eles insistissem a respeito de sua posição, porque Jesus estava inclinado, escrevendo no chão, ele se levantou e disse que quem não tivesse pecado, atiraria a primeira pedra de modo que todos foram embora a partir dos mais velhos. Jesus também não a condenou e pediu-lhe que não pecasse mais (Jo 8, 11). É a figura de Jesus no cartaz da Campanha da Fraternidade 2022, escrevendo no chão, amor, misericórdia, enquanto a mulher estava inclinada, também no chão, na esperança da misericórdia do Senhor, como de fato ela teve esta graça. No entanto, no início do capitulo oito de São João fala que “todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los” (Jo 8, 2). Jesus falava com sabedoria e ensinava com amor. Ele levou as pessoas a não condenar o pecador ou a pecadora, mas que tivesse misericórdia, amor. Jesus tornou aquela mulher, uma nova criatura, pelo perdão dado e também para que ela voltasse para sua casa e não pecasse mais. A conversão de vida é o ponto fundamental no ensino de Jesus Cristo.
O evangelho de Marcos também afirmou que o ensino dado por Jesus, era uma realidade, em sua vida, pois quando Ele entrou em Cafarnaum, no sábado, ensinava na sinagoga. O povo estava maravilhado, pois ele ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas (Mc 1, 21-22). O seu ensino atraia as pessoas, pois era feito com amor para que todos vivessem bem, no meio familiar, comunitário e social.
O ensino como possibilidade de libertação
Jesus era também o verdadeiro Educador das pessoas, levando-as para a libertação das estruturas na época como o do sábado, o Templo, a vida com Deus, pois essas levavam à escravidão, à exclusão, sobretudo na relação com os pobres. O Evangelista João teve presentes que os guardas do Templo voltaram para os sumos sacerdotes e os fariseus sem ter feito a prisão do Senhor. Sendo indagados, eles responderam que ninguém jamais tinha falado como aquele homem. Portanto a palavra de Jesus ia ao sentido da verdade, da compaixão e do amor.
Na festa da Páscoa, Jesus subiu a Jerusalém e no templo encontrou vendedores de bois, ovelhas, pombas e cambistas. Ele fez um chicote com cordas e expulsou a todos no templo porque fizeram da casa do Pai, uma casa de comércio. Jesus colocou o ensinamento com Deus, pelo culto, como caminho de libertação em relação ao egoísmo humano, a importância da palavra de Deus, em relação ao comércio e a necessidade do amor entre as pessoas. O templo deveria ser o lugar do culto levava as pessoas a Deus e trazia Deus para a humanidade. Ao mesmo tempo em que o Senhor manifestou zelo pela casa do Senhor, ele o relativizou porque o verdadeiro templo, santuário será o seu corpo, que poderia ser destruído, mas no terceiro dia, ressurgiria. À luz da ressurreição, os discípulos acreditaram que as Escrituras se cumpriram nas palavras de Jesus Cristo, o verdadeiro templo de Deus (Jo 2,13-22)[1].
O evangelista Marcos coloca que Jesus foi para a sinagoga e lá havia um homem com a mão seca, de modo que alguns observavam se ele faria a cura no dia de sábado, para assim poder acusá-lo. Jesus enfrentou a situação como Redentor da humanidade, ao dizer para aquela pessoa poderia levantar-se e ficar no meio. Em seguida ele perguntou se no sábado era permitido fazer o bem ou não, salvar uma vida ou deixá-la morrer?! Como aquele povo tinha o coração duro, Jesus disse para aquela pessoa que estenderia a mão, de modo que ela ficou curada. O evangelho colocou que os fariseus e os partidários de Herodes, tramaram uma maneira de como haveriam de matá-lo (Mc 3,1-6). Assim o Senhor dirá que o Filho do Homem é Senhor também do sábado (Mc 2,38). O seu ensino é dado com autoridade para o bem das pessoas e à glória de Deus.
Outra questão que Jesus enfrentou foi a da pureza e impureza junto aos fariseus e doutores da Lei. Jesus criticou aquela realidade que violava os mandamentos da lei de Deus, pois ao ter presente Isaias, afirmou que aquele povo o honrava com os lábios, mas o seu coração estava longe do Senhor (Is 29,13). Ele continuou o seu discurso criticando a prática que os levava à anulação do mandamento da Lei de Deus, para seguir as tradições criadas por eles. O quarto mandamento da lei de Deus diz que é para honrar pai e mãe. No entanto o sustento que se daria para o pai e mãe, a partir dos filhos e das filhas, através de uma tradição criada por eles, seria concedido para o templo, de modo que eles, segundo o Senhor Jesus, esvaziavam a Palavra de Deus com os costumes e práticas que eles transmitiam para os outros (Mc 7, 5-13). O ensino de Jesus condenou esta prática, conduzindo as pessoas à verdade para que assim a Lei de Deus na realidade humana, fosse assumida e amada por todos os seus seguidores e seguidoras.
O Mestre, Jesus
Mateus tem presentes algumas admoestações de Jesus como o Mestre verdadeiro contra os fariseus e os escribas, pois ele ensinava que a fé a vida andem juntas. Ele é o Mestre que leva as pessoas a ter amor aos mais necessitados e a Deus. Ele disse que na cátedra, cadeira, de Moisés, eles estavam sentados, de modo que tudo o que eles diziam, fosse observado, mas não seriam imitadas as suas ações, porque eles falavam e não faziam. Sobre os outros eles amarravam pesados fardos, mas eles mesmos não os moviam nem sequer com um dedo. Faziam as suas obras só pela aparência e gostavam de lugar de honra nos banquetes e nas sinagogas. Eles esperavam que as pessoas os cumprimentassem como rabi, mestre. No entanto, Jesus disse para os seus discípulos e as suas discípulas que não se façam chamar de rabi, pois um só é o Mestre de todos eles e elas, Jesus Cristo e todos são irmãos e irmãs. A palavra mestre vem do latim magister, cujo significado diz respeito a uma pessoa que ensina aos outros, os instrui no caminho certo[2]. Na decorrência de seu ensino, Jesus também disse que um só é o Pai, aquele que está nos céus. Um só é o Guia, Jesus. O Guia é também uma palavra latina guidare, cujo significado é guiar, é uma pessoa que indica o caminho[3]. Jesus é o Guia que leva as pessoas à verdade, à libertação. As suas palavras conduzem à compreensão que Jesus é o Mestre verdadeiro, aquele que serve a todos e ensina aos seus discípulos e às suas discípulas a fazerem o mesmo, o serviço (Mt 23, 2-11).
Cristo, o Mestre por excelência
Os Padres da Igreja, sobretudo, Clemente de Alexandria, século II, afirmou que Cristo foi o Mestre por excelência na humanidade. Ele concedeu o remédio da bondade de Deus em relação ao ser humano, em vista de sua salvação pela superação do pecado. Foi grande a sabedoria da divina pedagogia em relação à salvação. O pedagogo, Cristo chamou as pessoas, a humanidade para agir sempre bem e melhor, sempre em vista do bem divino, a vida com Deus[4].
Jesus Educador ensina a todos a dar a vida
Jesus Educador deu a sua vida para a salvação de toda a humanidade. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). O amor maior é aquele de dar a sua vida em resgate por seus amigos. Jesus fez isto, porque como enviado do Pai, o verdadeiro Mestre deu a sua vida para a vida das pessoas e do mundo. Se toda a sua vida terrena foi percebida como doação de si mesmo, foi, sobretudo, na cruz, que ele como Educador da humanidade demonstrou todo o seu amor ao Pai e à humanidade. As suas palavras se realizaram na sua pessoa, de modo que ninguém tem um amor maior do que a doação de si mesmo para os outros.
Jesus é o Educador e Mestre do qual se torna o modelo de todo o educador e educadora. Seguindo os seus passos, as pessoas aprendem a divulgar a boa-nova do Reino de Deus, à uma vida de conversão, ao amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Sigamos o seu caminho, para corresponder bem à uma educação solidária, humana, que leve as pessoas até Deus. Jesus é o Educador e Mestre por excelência, neste mundo e um dia nós o contemplaremos na eternidade.
[1] Cfr. La Bibbia. Borgaro Torinese (TO), Piemme, 1995, pg. 2524.
[2] Cfr. Maèstro. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 883.
[3] Cfr. Guida. In: idem, pg. Pg. 700.
[4] Cfr. Clemente Alessandrino. Il Pedagogo, 1, 74,2-75. In: La teologia dei padri, v. 2. Città Nuova Editrice, Roma, 1982, pgs. 100.