Na manhã desta quarta-feira, terceiro dia da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o episcopado brasileiro começou a trabalhar sobre o Tema Central: “Igreja Sinodal – Comunhão, Participação e Missão”. A apresentação foi feita pelo arcebispo de Santa Maria (RS) e presidente da Comissão para o Tema Central, dom Leomar Antônio Brustolin.
Partindo do método: “ESCUTAR, DISCERNIR e AGIR”, o grupo analisou o contexto atual, discerniu sobre os sinais dos tempos, os processos sinodais em curso e a importância da comunidade, e indicou pistas de ação, a partir dos desafios.
No contexto atual, dom Leomar apresentou alguns pontos a serem considerados, em vista do discernimento: a pós-pandemia, o pontificado do Papa Francisco, a recepção criativa do Concílio Vaticano II, a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, o processo sinodal 2021-2023, os 15 anos do documento de Aparecida, a realidade das comunidades eclesiais missionárias, o paradigma entre a estrutura jurídica versus a Igreja sinodal e o desafio do clericalismo e das lideranças centralizadoras.
A dimensão do discernir foi apresentada pelo secretário da Comissão para o Tema Central, padre Tiago de Fraga Gomes, que iniciou destacando os “sinais dos tempos”. Segundo o sacerdote, “o discernimento não parte do nada, é preciso olhar para as comunidades e reforçar os processos sinodais que vem acontecendo. Reforçar o que está acontecendo e refletir no que precisa crescer”.
A oportunidade de investir na “escuta atenta” e na participação, de cuidar de tudo o que é humano, com especial atenção às dimensões de maior fragilidade, foram alguns dos quesitos levantados para um efetivo discernimento. Para isso, é necessário considerar que a comunidade é o ambiente sinodal, que precisa sempre ser reforçado, e o lugar da escuta atenta.
Na dimensão do agir, dom Leomar falou dos desafios atuais, destacando que as atuais “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE) 2019-2023″ permanecem atuais e são estruturantes e estáveis. Porém, a sinodalidade remete a um processo de dinamismo, no qual o contexto da Igreja, no pós-pandemia, precisa considerar a acolhida e a escuta. “É preciso repensar o valor da comunidade e renovar a mística do processo, pois o caminho não está pronto. Não se trata de um caminho novo, mas um jeito novo de caminhar frente aos sinais dos tempos que estamos enfrentando”, disse o arcebispo.
Ao final da exposição sobre o tema, dom Leomar, explicou como o tema central será trabalhado nas duas etapas dessa 59ª Assembleia Geral. Nesta que está acontecendo, após essa introdução sobre o Tema Central, serão apresentadas questões para serem trabalhadas em grupos, será realizada a escuta nos Regionais e nos Organismos, e haverá uma plenária e a entrega dos relatórios dos grupos para a Comissão do Tema Central.
Reflexão sobre o tema central nos 19 regionais da CNBB
Parte da sessão da tarde foi dedicada à reflexão entre a relação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023) e o Sínodo 2023. O bispo da diocese de Cristalândia (TO), dom Wellington de Queiroz Vieira, motivou o trabalho de grupo com perguntas sobre as DGAE e reforçou a importância da reflexão e a atualização delas a partir da Sinodalidade da Igreja.
Após a reunião em salas específicas, os regionais apresentaram a reflexão sobre as perguntas: “Em que medidas as atuais DGAE contribuem para uma Igreja Sinodal? Que aspectos devem ser mantidos e repensados? Que outros aspectos devem ser considerados?”.
De um modo geral, os regionais confirmaram a importância da continuidade das DGAE para o próximo quadriênio, com ênfase de que elas são já são a expressão da sinodalidade na Igreja no Brasil e que, contudo, precisam ser atualizadas de forma ainda mais participativa e sinodal, incluindo os organismos do povo de Deus em sua elaboração. A missão, apontaram os regionais, precisa ser um elemento central na vida da Igreja.
Os regionais apontaram ainda que a pandemia da Covid-19 dificultou o aprofundamento e a vivência das ideias expressas nas diretrizes e que o aspecto da caridade foi muito vivenciado em razão do avanço do coronavírus. Os regionais também apontaram que elas precisam ser atualizadas à luz do Sínodo 2023, da questão querigmática, da ministerialidade, da iniciação à vida cristã, da animação bíblica da Pastoral, da questão urbana e dos novos desafios da realidade em vista de um reencantamento dos fiéis à vida comunitária.
Novos passos do aprofundamento
Posteriormente, a Comissão prevê entregar, até o mês de julho, um texto com os destaques da escuta que será realizada. Na segunda etapa da Assembleia Geral, a ser realizada de 29 de agosto a 2 de setembro, em Aparecida (SP), acontecerá o aprofundamento do tema e as indicações para as próximas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, a serem publicadas em 2023.
Dois desafios para a construção de todo esse processo foram apresentados por dom Leomar. “O primeiro é o de fortalecer a comunidade cristã numa sociedade em rápida mudança, que gera comportamentos inéditos e apresenta problemas éticos totalmente novos. O segundo é que não há receitas prontas e nem fórmulas universais diante da complexidade e pluralidade dos contextos atuais”, disse o arcebispo.
Por Karina Carvalho / CNBB Sul 2