A CULTURA DO CUIDADO
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Salvador (BA)
No contexto da pandemia, “para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece prevalecer”, o Papa Francisco propõe a “cultura do cuidado” como caminho para a paz. Por ocasião do Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro, ele divulgou uma belíssima mensagem intitulada “A cultura do cuidado como percurso de paz”, abordando os diversos aspectos do “cuidar”. Afirma Francisco que “a cultura do cuidado, enquanto compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, enquanto disposição a interessar-se, a prestar atenção, disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao respeito mútuo e ao acolhimento recíproco, constitui uma via privilegiada para a construção da paz”. Estas palavras adquirem especial importância num mundo especialmente necessitado de reconciliação, de justiça e de paz.
Francisco expressa a dolorosa constatação de que “ao lado de numerosos testemunhos de caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte e destruição”. Neste contexto, agravado pela pandemia, torna-se ainda mais necessária a construção da fraternidade e da paz, através do cuidar “uns dos outros e da criação”. A “cultura do cuidado” tem sido proposta por Francisco em vários pronunciamentos e iniciativas, aparecendo, de modo especial, na sua encíclica Laudado Si, sobre o “cuidado da casa comum”.
Ele se solidariza com os que mais sofrem e reconhece, com gratidão, as pessoas que se colocaram a serviço dos doentes para aliviar os seus sofrimentos e salvar suas vidas. Ao mesmo tempo, o Papa renovou “o apelo aos responsáveis políticos e ao setor privado para que tomem as medidas adequadas a garantir o acesso às vacinas contra a Covid-19 e às tecnologias essenciais necessárias para dar assistência aos doentes e a todos aqueles que são mais pobres e mais frágeis”.
No triste cenário da pandemia, que se agrava em diferentes países e nas diversas regiões do nosso país, é necessário redobrar o empenho para superá-la, através da “cultura do cuidado”. Não podemos desanimar, nem desistir de observar as medidas de saúde pública para evitar contágios e preservar a vida e a saúde. É indispensável o esforço de cada um, pois a falta de responsabilidade de uns pode custar a vida de outros. As renúncias e sacrifícios que fazemos para evitar a disseminação do vírus são gestos de amor e consequência da fé em Deus. Contudo, o papel dos governantes é de extrema importância, para garantir a assistência aos doentes e aos pobres e para assegurar a vacina para todos, motivando e criando condições para a vacinação nas diferentes localidades do país. Assim, estaremos percorrendo caminho de vida e de paz.