Acutis, o beato que testemunhou Cristo nas estradas digitais
Federico Piana, Silvonei José – Vatican News
Internet e Eucaristia. Aparentemente, esta combinação poderia ser considerada um pouco arriscada, mas se olharmos para a figura de Carlo Acutis – beatificado no sábado último e cuja memória litúrgica foi celebrada pela primeira vez ontem, 12 de outubro – descobrimos que este não é o caso. Pelo contrário, se pode dizer com certeza que desde muito cedo aprendeu os segredos da Rede – era um autodidata – para utilizá-la como meio para fazer conhecer e amar Deus verdadeiramente até aos confins da terra. Prova evidente é a sua exposição virtual sobre milagres eucarísticos, concebida e realizada quando tinha apenas 14 anos de idade e que ainda atrai milhares de visitantes de todo o mundo. E isso não é tudo. Carlo também utilizava a Internet para se aproximar dos seus coetâneos, ajudando-os à distância a ultrapassar as dificuldades escolares, sejam elas pequenas ou grandes. Isto também foi sublinhado pelo Papa no Angelus de domingo, falando de um rapaz que “não se deitou numa imobilidade confortável, mas acolheu as necessidades do seu tempo, porque nos mais fracos via o rosto de Cristo”.
Habitar o ambiente digital, missão de amor
“A breve vida terrena de Carlo”, explica Fortunato Ammendolia, informático, estudioso da pastoral digital e de inteligência artificial no Cop, o Centro de Orientação Pastoral, “foi transfigurada pela palavra de Deus e pela Eucaristia”. Por isso começou a escrever na web, com páginas web, a mensagem de fé, uma mensagem do seu amor pela Eucaristia. Ele compreendeu que era necessário habitar o ambiente digital para uma transfiguração do homem, que é o objetivo do trabalho pastoral digital”. Carlo permanecia verdadeiramente próximo de Jesus mesmo quando percorria os imensos caminhos virtuais: “E isto – acrescenta Fortunato Ammendolia – deve ter causado uma impressão forte e positiva nos seus amigos. Não há dúvida”.
Mensagem fortemente educativaO beato Acutis transmitiu uma mensagem a um mundo cada vez mais tecnológico e conectado, que é difícil ignorar. Fortunato Ammendolia tenta sintetizar isto dizendo que “a orientação que herdamos é fundamentalmente educativa para uma espiritualidade eucarística que se encarna na ação centrada no Evangelho. Carlo terá certamente sonhado com projetos de educação sobre a Eucaristia a serem realizados entre a realidade e o digital. Se ele tivesse tido tempo, tenho a certeza que também teria aproveitado a oportunidade da realidade aumentada e da realidade virtual”. Então Ammendolia acrescenta um detalhe que nos faz compreender como aquele adolescente, no seu caminho para a santidade, não só tinha a cabeça voltada para o céu, mas também os pés firmemente plantados na terra: “Carlo sofreu quando viu as igrejas vazias. Daí um compromisso educativo na Internet para repovoar as paróquias, porque, disse ele: Jerusalém está à nossa porta”.
Um grande legado: o uso ético da rede
Carlo Acutis deixa também um legado a todos os informáticos do mundo e aos jovens nativos digitais. Uma verdadeira bússola a ser seguida escrupulosamente: “O Papa Francisco – explica Fortunato Ammendolia – apresentando-o como um modelo de santidade na era digital, na encíclica pós-sinodal Christus vivit, escreve que Carlo sabia muito bem que os mecanismos de comunicação e das redes sociais podem ser utilizados para nos tornar sujeitos adormecidos. Mas ele sabia como utilizá-los para transmitir a beleza do Evangelho. Gosto de ler esta frase como um convite a uma utilização ética da rede”.