O protagonismo da juventude na evangelização deve ser prioridade na Igreja
Com informações do Portal da CNBB
A juventude mundial esteve no centro das atenções da Igreja durante a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorreu neste mês de outubro, em Roma. Durante quase 30 dias, padres sinodais e lideranças jovens convidadas debateram sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Na missa de encerramento do Sínodo, o papa Francisco agradeceu aos jovens pelo testemunho. “Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus”, disse.
A delegação brasileira era composta pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom Jaime Spengler, o bispo coadjutor de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva e o jovem representante da Pastoral Juvenil da CNBB, Lucas Galhardo.
O bispo coadjutor de Nova Iguaçu (RJ), dom Gilson Andrade da Silva, ressalta que algumas palavras marcaram as semanas de trabalho em Roma durante o Sínodo: escuta, acompanhamento, testemunho e sinodalidade.
“Logo no início dos trabalhos apareceu a perspectiva bíblica que deveria assumir a nossa reflexão: os discípulos de Emaús. Uma Igreja que, com a união de todas as suas forças, deseja encontrar os jovens nos caminhos que eles percorrem, nos ambientes onde estão. Que seja capaz de escutar seus sonhos e as suas decepções, a fim de iluminá-los com o anúncio de Jesus Cristo ressuscitado e acompanhá-los nas distintas etapas da vida e no discernimento dinâmico do caminho vocacional que envolve toda a vida que é marcada pelo chamado à santidade”, destaca.
Com o encerramento do Sínodo foi produzido um Documento Final que vai nortear o trabalho da Igreja com a juventude em todo o mundo. Depois de votado e aprovado, o papa Francisco falou de forma espontânea aos participantes que o Sínodo é sempre maior do que aquilo que pode conter um documento. “Não se faz um Sínodo para simplesmente se produzir um documento, pois o processo sinodal é muito mais amplo e é preciso ter isso em conta. Todos são convidados a tomar parte dele uma vez que trata de uma realidade prioritária na vida eclesial”, descreve dom Gilson.
O bispo de Imperatriz do Maranhão e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Vilson Basso contribuiu diretamente na elaboração do Documento Final.
O Parágrafo 119 foi elaborado com uma emenda feita por dom Vilsom. A frase “opção preferencial pelos jovens” não estava presente na primeira versão do texto, mas foi acrescentada no último dia e assinada por vários bispos e cardeais.
Em entrevista ao Vatican News, dom Vilsom destacou que a Igreja considera a opção preferencial pelos jovens uma prioridade pastoral desse tempo e dessa época. “Queremos ser esta Igreja mãe que acolhe e está com os jovens, que caminha com os jovens. Parabéns a todas as juventudes, porque entrou também nesta emenda que fizemos dizendo da grande realidade juvenil, são muitas as juventudes. Deus seja louvado e que a juventude seja de fato o presente o futuro o ânimo a coragem e a esperança da nossa Igreja”, destacou.
O que esperar do Sínodo?
Dom Gilson Andrade destaca que outro ponto importante desse Sínodo: o protagonismo dos jovens. “O papel dos jovens na evangelização da juventude é insubstituível. Eles são parte do corpo de Cristo e devem ser ajudados a assumir a sua missão. Espaço para os jovens foi outro pedido repetido unanimemente durante o Sínodo tanto por parte dos jovens presentes como dos Padres Sinodais”.
O bispo ressalta também que a Igreja quer assumir uma atenção particular quanto aos jovens feridos desse tempo e vê neles um lugar privilegiado de encontro com Deus. “O fenômeno mundial das migrações foi longamente considerado na reflexão durante o Sínodo. Também outras situações relativas à violência, ao mundo do trabalho, às exclusões e marginalizações, às angústias que marcam tantos jovens devem ter um olhar mais atento de nossa parte.”
O acompanhamento dos jovens nas diversas etapas da vida e no discernimento vocacional é outro ponto importante que sai sesse Sínodo. “Uma pastoral que deverá assumir sempre mais sua dimensão vocacional. Será necessário investir em pessoas, tempo e recursos para uma presença mais efetiva junto à juventude”, diz o bispo.
Ao longo do mês, a juventude pôde acompanhar diariamente, por meio do site do “Jovens Conectados”, reflexões sobre as atividades realizadas durante a assembleia. Entre as temáticas estiveram as experiências de fé e acompanhamento; a vocação da solidariedade; a conversão Pastoral Missionária; o chamado de Deus aos jovens e escolher a partir de Jesus Cristo.
No dia 27 de outubro, o episódio dos discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista Lucas, foi o fio condutor do Documento Final do Sínodo dos Jovens, um complemento ao Instrumentum laboris do Sínodo, que foi subdividido em três partes com 12 capítulos, 167 parágrafos e 60 páginas.
“Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”, disse o papa Francisco na homilia da missa de encerramento do Sínodo que reuniu cerca de sete mil pessoas.
Leia aqui o que diz o Documento Final do Sínodo dos Jovens
Carta dos Padres Sinodais aos jovens
Antes da bênção final da missa de encerramento, o secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu a carta dos Padres Sinodais aos jovens. Leia a íntegra:
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Carta dos Padres Sinodais aos jovens
A vocês, jovens do mundo, nós Padres Sinodais nos dirigimos com uma palavra de esperança, confiança e consolação. Nestes dias, nos reunimos para escutar a voz de Jesus, “o Cristo, eternamente jovem”, e reconhecer Nele as vozes dos jovens e seus gritos de exultação, lamentos e silêncios.
Sabemos de suas buscas interiores, das alegrias e das esperanças, das dores e angústias que fazem parte de sua inquietude. Agora, queremos que vocês escutem uma palavra nossa: desejamos ser colaboradores de sua alegria para que suas expectativas se transformem em ideais. Temos certeza de que com sua vontade de viver, vocês estão prontos a se empenhar para que seus sonhos tomem forma em sua existência e na história humana.
Que nossas fraquezas não os desanimem, que as fragilidades e pecados não sejam um obstáculo à sua confiança. A Igreja é sua mãe, não abandona vocês, está pronta para acompanhá-los em novos caminhos, nas sendas mais altas onde o vento do Espírito sopra mais forte, varrendo as névoas da indiferença, da superficialidade, do desânimo.
Quando o mundo, que Deus tanto amou a ponto de lhe doar seu Filho Jesus, é subordinado às coisas, ao sucesso imediato e ao prazer, pisoteando os mais fracos, ajudem-no a se reerguer e a dirigir seu olhar ao amor, à beleza, à verdade e à justiça.
Por um mês, nós caminhamos juntos, com alguns de vocês e muitos outros unidos a nós com a oração e o carinho. Desejamos continuar o caminho em todas as partes da terra onde o Senhor Jesus nos envia como discípulos missionários.
A Igreja e o mundo precisam urgentemente de seu entusiasmo. Sejam companheiros de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida.
Vocês são o presente, sejam o futuro mais luminoso.
28 de outubro de 2018