Mensagem de Dom Paulo Sérgio por ocasião da Festa de São Carlos Borromeu
Carlos Borromeu nasceu no castelo da família, em Arona, localizado próximo de Milão em 2 de outubro de 1538. Era filho do Conde Gilberto Borromeu e da Condessa Margarida de Médici que era extremamente dedicada à família. Ao falar de São Carlos Borromeu, sirvo-me da máxima do escritor alemão Friedrich Schegel: “um historiador é um profeta ao contrário, mas, que na verdade diz a mesma coisa.” Para muitos, profeta é aquele prevê o futuro, quando, na verdade, o profeta é aquele que testemunha o que fala em nome de outros e não em seu próprio nome.
Durante séculos São Carlos representou não somente o ideal de Bispo, mas a fonte mais importante da Fonte Eclesial Ambrosiana. Os seus sucessores, à frente da Arquidiocese de Milão sempre o consideraram um modelo insuperável.
Borromeu convida a observar o sentido e o respeito à lei eclesiástica e propõe a figura do Bispo como “pater pauperumet defensor civitates” (pai dos pobres e defensor das cidades). São Carlos é padroeiro da cidade de Milão, padroeiro da cidade de São Carlos e, juntamente com São Pio X e São José de Anchieta, padroeiro dos catequistas.
A importância de São Carlos atravessa os séculos e chega aos nossos dias, não somente pela sua significativa e decisiva participação no Concílio de Trento porque sem ela, o Concílio não teria chegado ao seu tema e muito menos à sua aplicação.
São Carlos distinguia-se pela grandeza de alma e pela modéstia. Era muito querido por todos os empregados do castelo e dava atenção especial aos pobres, doentes e abandonados.
O Concílio de Trento foi convocado em 1545 e, depois de muitas interrupções foi concluído em 1563. Seu objetivo era promover a reforma da Cúria Romana, isto é, da Corte Papal e do Governo da Igreja; também era necessário reorganizar a disciplina do clero, definir vários aspectos doutrinários e fortalecer a Igreja diante da Reforma de Lutero.
Ao tomar posse, a entrada de Carlos em Milão foi uma apoteose. Carlos abandonou toda a riqueza para viver, a exemplo de Jesus na pobreza. O lema da família (Humilitas) foi assumido com radicalidade. Sua vida foi no constante serviço ao seu rebanho, particularmente aos pobres distribuindo o pão para o corpo e para a alma. Por ocasião da epidemia da peste que tomou conta de Milão, que havia enfrentado a peste de 1524 e a de 1530, Carlos “arregaçou as mangas”, vendeu tudo que tinha e pessoalmente saía em socorro dos pobres. É o que podemos ver no teto da Capela da Casa Episcopal de São Carlos.
Em outubro de 1584, retirando-se para os exercícios espirituais, teve fortes acessos de febre e mesmo assim, se encorajava dizendo: “um bom Pastor de almas deve suportar três febres antes de se recolher ao leito.” Os acessos continuaram e consumiam as forças do arcebispo. Provido dos Santos Sacramentos, expirou aos 3 de novembro de 1584, pronunciando suas ultimas palavras “eis Senhor, eu venho, vou já”.
São Carlos tinha apenas a idade de 46 anos e sua morte foi muito sentida por todos. Para evitar títulos pomposos, havia determinado em seu testamento que fossem escritas, em seu túmulo, as seguintes palavras: “Carlos Cardeal com o título de Santa Praxedes, Arcebispo de Milão, que se recomenda à oração fervorosa do clero, do povo e dos devotos em Geral.” Ele mesmo escolheu, em vida, esta tumba para si.
O Papa Paulo V canonizou-o em 1610 e fixou-lhe a festa para o dia 04 de novembro. O corpo do Santo, em boa conservação, repousa na cripta da Catedral de Milão e se tornou centro de peregrinação de fiéis de todo o mundo.
Dom Paulo Sérgio Machado
Bispo Emérito da Diocese de São Carlos