Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Ainda no horizonte luminoso do mês de maio, reluz o anúncio de um importante convite: a celebração do “Junho Verde” que deve envolver a sociedade brasileira, interpelada a refletir sobre o que os seres humanos fazem com o planeta. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) muito se dedicou, junto às instâncias governamentais competentes, para alterar a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, para instituir a Campanha Junho Verde. A iniciativa foi instituída com a Lei 14.393, de 27 de maio de 2022. Uma campanha anual que convoque a sociedade a investir mais em educação ambiental, alinhando-se aos parâmetros e propostas da ecologia integral, bem definida pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si’ e na Exortação Apostólica Laudate Deum.
É urgente avançar sempre mais nos propósitos do “Junho Verde”, para continuamente aperfeiçoar o entendimento da população sobre a essencialidade de se conservar ecossistemas naturais, protegendo todos os seres vivos. Um compromisso que exige o controle da poluição e da degradação dos recursos naturais. Viver os princípios da ecologia integral é seguir uma diretriz que precisa estar inscrita na alma dos cidadãos, ocupando a interioridade de cada um. Assim é possível reagir à degradação do planeta, com a adoção de um novo estilo de vida, mais sustentável. O atual modelo de relação que o ser humano estabelece com a Casa Comum está esgotando o meio ambiente. As consequências são as sucessivas tragédias e catástrofes, em diferentes lugares.
A campanha Junho Verde é tarefa do poder público em parceria com escolas, universidades, empresas públicas e privadas, igrejas, comércio, entidades da sociedade civil, comunidades tradicionais e populações indígenas. Há um amplo conjunto de possibilidades, quando se pensa nas muitas oportunidades oferecidas pela temática ambiental. Por isso, não se pode correr o risco de deixar passar o mês de junho sem atitudes e comprometimentos capazes alimentar nova compreensão e atitudes no tratamento da casa comum. Todos devem se convencer, cada vez mais, de que tudo está interligado, e perdas terríveis ocorrem quando essa realidade é tratada com negligência ou desrespeito.
No atual contexto de devastação ambiental, conta toda contribuição no sentido de reverter a deterioração em curso. Assim, cada providência que inspire uma reação diante da crise socioambiental é significativa. A sociedade jamais pode considerar-se suficientemente dedicada à ecologia integral. Ao contrário, deve reconhecer sua responsabilidade nos eventos climáticos catastróficos, com irreparáveis perdas, especialmente de vidas humanas. Há muito a ser feito para salvaguardar florestas e outros biomas brasileiros, que constituem uma riqueza singular, mas continuam ameaçados.
A civilização é chamada a aprender que tudo na casa comum tem relevância. Esse aprendizado poderia se efetivar, por exemplo, a partir de iniciativas que eduquem sobre o uso e conservação dos espaços públicos, a serviço do bem de todos, como as praças e os parques. Os espaços públicos têm potencial, ainda inexplorado, para a realização de ações voltadas à educação ambiental. Essas ações precisam contemplar investimentos para inspirar a adoção de novos padrões ligados ao consumo. O ser humano deve aprender a não desperdiçar, a não agir com soberba diante dos bens da natureza. É preciso se compadecer com os que não têm o essencial para viver dignamente.
Dentro dos propósitos do “Junho Verde”, surge a oportunidade de conhecer mais sobre a biodiversidade brasileira, alcançando um encantamento que gera a nobreza de posturas cidadãs adequadas. Encantar-se com a biodiversidade nacional permite superar mentalidades extrativistas perversas e mesquinhas, regidas apenas pelos parâmetros frios do lucro e de mercados. Uma atitude simples e bela, que pode ser intensificada neste mês, é o plantio de espécies vegetais nativas em áreas urbanas ou rurais. Um gesto capaz de ensinar às crianças e aos jovens, pela força da exemplaridade, sobre a importância de tratar a natureza com respeito.
No horizonte educativo, é preciso buscar estratégias para que a população saiba mais sobre a legislação ambiental brasileira, capacitando os cidadãos para que possam contribuir também no aperfeiçoamento e, até, nas correções, desse conjunto de leis. Esse horizonte educativo auxilia na superação das permissividades e manipulações que buscam favorecer grupos depredadores do meio ambiente. A legislação ambiental brasileira precisa avançar muito para contribuir efetivamente com o desenvolvimento integral. Esses avanços dependem de maior amadurecimento cidadão em temas técnicos de grande relevância, a exemplo do debate sobre transição ecológica das cadeias produtivas, economia de baixo carbono e carbono neutro. Outra frente de trabalho igualmente importante que precisa ganhar mais visibilidade no contexto do “Junho Verde” é a busca pela preservação da cultura dos povos tradicionais e indígenas que habitam e protegem biomas brasileiros.
As mudanças climáticas devem inspirar um grande pacto para promover a preservação do planeta. Espera-se mais dos poderes legislativos a promoção de debates sobre os impactos dessas mudanças nas cidades e no ambiente rural, para fazer florescer uma sensibilidade que inspire práticas de conservação da natureza. A sociedade brasileira está convidada e convocada a promover a Campanha Junho Verde, semeando os princípios da ecologia integral, nas suas variadas e ricas dimensões – social, cultural, humana e espiritual – para avançar rumo a um novo tempo. O que está acontecendo com a casa comum, com o meio ambiente? Deixar-se inquietar por essa pergunta é o primeiro passo no caminho de superação da atual crise socioambiental.